Eduardo Prado Coelho

Antes, a expectativa. No momento, o vulto. Quando Eduardo Prado Coelho se aproximou da sala, fez-se um silêncio breve, para logo se ouvir um cumprimento sorridente. Sentava-se, esperava que o buliço da juventude assentasse, folheava um livro despreocupadamente, lançava uma pergunta aberta e surpreendia-se com o silêncio. Cruzava, a custo, a perna e olhava num ângulo raro, entre o tecto e os interlocutores, como que a lembrar-se do momento que, afinal, era presente. Fui aluno de Eduardo Prado Coelho em diversas cadeiras. Nessa altura, após horas a ouvir dissertações construídas do nada, ganhei coragem e entreguei manuscrito. Nunca, por qualquer razão, me respondeu. Em exames, dado o regime totalmente livre dos mesmos, saía para ir comprar livros à agora defunta Livraria Francesa, regressando leve no passo e com um sorriso que o peso dos sacos não faria adivinhar. Entusiasmava-se com as coisas mais ímpares, e falava de telenovelas para, no minuto seguinte, se lembrar de Deleuze, como se tudo estivesse numa mesma realidade ou dimensão. Em conferência que organizei no Centro Nacional de Cultura (com o entusiasmo da falecida Helena Vaz da Silva), para um grupo internacional de jovens, fez questão de se pronunciar em francês, porque não acreditava o seu inglês como possível. Num fim de tarde primaveril, de janelas abertas com vista para o S. Carlos, discorreu sobre comunicação e a Europa com a languidez que o caracterizava, pausado, pensativo, divertido com as próprias palavras. Defendeu o livro e a Cultura até ao limite, promoveu a Portugalidade enquanto conceito e ideia, manteve uma perspectiva aberta e saudável sobre tudo o que o rodeou até ao fim. O Animatógrafo curva-se respeitosa e saudosamente perante a memória de Eduardo Prado Coelho.

0 comments: