segunda-feira, dezembro 31, 2007
O ano está morto. Viva o ano
"Do melhor de 2006 é o fim. Todos os anos são bons desde que tenham um fim. Ou, de forma mais concreta e anglo-saxónica, closure. Muito em breve, o Animatógrafo terá origem de outro local. Muito em breve o Animatógrafo poderá ter outras visões. Muito em breve, tudo poderá ser diferente. Muito em breve posso ter insónias, programadas há anos, que poderão resultar em algo público. Ou púdico. Ou púbico. Muito em breve tudo poderá ser igual, sendo diferente. Muito em breve toda esta brevidade poderá redundar em languidez. Não tenho cancro. Não sou espírita. Não sou de direita. Não vou emigrar. Não vou permanecer. Não me esqueço. Não me fico. Não resisto. O ano está morto. Viva 2023."
Idem, aspas, siga.
domingo, dezembro 30, 2007
Sexto regresso
sábado, dezembro 29, 2007
quarta-feira, dezembro 26, 2007
Museu Colecção Berardo
Eastern Promises (***)
segunda-feira, dezembro 24, 2007
domingo, dezembro 23, 2007
Eu detesto o Natal (versão equivocada)
O nome do município vem do latim natale e, segundo escritores, seu nome pode ser explicado por duas versões: a primeira refere-se ao dia em que a esquadra penetrou na barra do Rio Potengi; a segunda tem ligação direta com a data da demarcação do sítio primitivo da cidade, realizada por Jerônimo de Albuquerque no dia 25 de dezembro de 1599 (Dia de Natal). É dotada de muitas belezas naturais, atraindo por volta de 2 milhões de turistas ao ano, que procuram, por exemplo, o Carnatal, a maior micareta (bloco de rua) do planeta."
Wikipédia
Quarto regresso
Vergílio Ferreira
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Terceiro regresso
Sem piedade
(...) Os polícias tinham confundido os actores com assaltantes a sério e apenas a intervenção dos outros agentes evitou uma tragédia maior. (...) A polícia também adiantou que o filme devia chamar-se Sem Piedade.”
in Diário de Notícias, 19/12/007
domingo, dezembro 16, 2007
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Anima-dinner 2: balanço
Ora:
1) - Efectivamente, uma gaja boa mexe-se melhor que dois mastronços;
2) - Efectivamente, ainda há Rabeas que valem a pena;
3) - Efectivamente, cumpriram-se directivas e criaram-se outras, pelo que o caminho para a ditadura está apontado;
4) - Efectivamente, ainda há quem tenha tomates para ter uma espada sobre a cabeça e sorria como se estivesse a caminho das virgens eternas;
5) - Efectivamente, o cotão é uma realidade visível à penumbra de Alá.
Em Janeiro, versão 3. Com menos umbigo. Ou não.
domingo, dezembro 09, 2007
Control (****)
sábado, dezembro 08, 2007
primeiro regresso
e depois um todo se abate, como pérolas, como finuras de pó, sem torpor
sabes
que em tudo a acção massiva se assinala à entrada do norte, e o mundo
reconhecer
como que comparando casa, peixe, ramos, morte
como tanto que comparando campo, ou a latinidade do sopro, e a amplitude dos comuns
mudo
ausência de cor, ponto
sabes que em tudo, mostra-se a idade dos móveis nas lápides
e o muro sacro santo dos rumores
quinta-feira, dezembro 06, 2007
quarta-feira, dezembro 05, 2007
sábado, dezembro 01, 2007
quarta-feira, novembro 28, 2007
Anima-dinner 2
Acabou-se
"Foi uma decisão ponderada e tomada em mútuo acordo com o grupo", sublinhou Teresa Salgueiro, recusando falar no fim do projecto, surgido há 22 anos e que se afirmou como um dos mais importantes da música portuguesa.
"A partir deste momento todas as decisões sobre o grupo são do Pedro [Ayres Magalhães], mas de futuro mantenho-me ao dispor para eventualmente cantar, dentro da minha disponibilidade e da conveniência do grupo", assinalou.
Teresa Salgueiro decide sair por não ter disponiblidade para se dedicar a tempo inteiro aos Madredeus, quando está envolvida em três projectos diferentes.
"Os Madredeus são independentes e exigiam uma grande entrega e disponilidadade que hoje não posso dar", disse.
Teresa Salgueiro anuncia a sua saída dos Madredeus numa altura em que intensifica a sua agenda de concertos de promoção dos dois álbuns que editou em nome próprio, "Você e Eu" e "La Serena".
Além destes dois projectos, Teresa Salgueiro é ainda uma das solistas do álbum "Silence, Night and Dreams", do compositor polaco Zbigniew Preisner, e integra o elenco do concerto de apresentação ao vivo, domingo, no Barbican Center Hall, em Londres, com a participação da Orquestra Sinfónica de Londres.
Este anúncio de Teresa Salgueiro surge também no final de um ano sabático, que os Madredeus iniciaram em 2006.
Em Outubro do ano passado, Pedro Ayres Magalhães, fundador e principal compositor dos Madredeus, anunciou que o grupo iria parar por um ano "para pensar e reorganizar" as suas actuações.
Na altura, o músico garantia que o grupo não iria acabar, mas apenas reduzir o ritmo de actuações e edições discográficas que mantinha desde os anos 1990.
Apesar da saída dos Madredeus, Teresa Salgueiro diz que ficará "sempre ligada" ao grupo que a deu a conhecer nos anos 1980.
"Estou muito grata ao grupo por ter participado nesta extraordinária aventura que foram os Madredeus", subinhou.
Teresa Salgueiro, 38 anos, entrou para os Madredeus em 1986, com apenas 17 anos, depois de Rodrigo Leão e Gabriel Gomes a terem ouvido cantar em Lisboa."
Público
domingo, novembro 18, 2007
Beowulf 3D (*****)
sábado, novembro 17, 2007
Alguém veio aqui parar pesquisando... (XIV)
"grafos de bolo"
"breca"
"cartoons vapores nos olhos"
"BEIJOS FOFOS"
"corte cabelo rockabilly"
"palhacadas sobre 15 de novembro e 7 de setembro"
"origem do boneco barney"
:S
quarta-feira, novembro 14, 2007
Corbijn, Zemeckis, Cronenberg, Van Sant, Coppola
The Death of Mr. Lazarescu (*****)
[sobre "A morte do Sr. Lazarescu", agora em cartaz, recupero texto de Maio 2006, quando da passagem pelo IndieLisboa]
Anima-dinner 1
1) - Efectivamente, todo o fado é vadio até à chegada de Roy Orbison;
2) - Efectivamente, todas as putas sabem mandar calar os descontraídos;
3) - Efectivamente, quanto mais toupeira mais entorna;
4) - Efectivamente, antigamente as figuras eram menos tristes do que aos olhos de hoje.
5) - Efectivamente, nenhum dos convivas teve a coragem de se munir de textos deste honorável tasco para colocar o seu autor em cheque. Pelo que o pagamento foi em cartão.
Posto isto, será levado a cabo novo evento já em Dezembro, para o qual se aceitam sugestões de tema. Mais se informa que não existirão guitarradas, mas coisas do corpo. Atirem-se de cabeça.
domingo, novembro 11, 2007
Juan Carlos, Zapatero, Chavez
Heima, Hvarf, Heim

Seinfeld, Conan
quinta-feira, novembro 08, 2007
domingo, novembro 04, 2007
Californication, Showtime
Desabafo mental (VIII)
sábado, novembro 03, 2007
O Animatógrafo vira jantar
O Animatógrafo vira capa
O Animatógrafo vira rádio
quinta-feira, novembro 01, 2007
domingo, outubro 28, 2007
DocLisboa 2007
quarta-feira, outubro 24, 2007
Semana Doc
domingo, outubro 14, 2007
Heima
sábado, outubro 13, 2007
Radiohead

Comédia, Tragédia
O novo líder do PSD e o ex-primeiro-ministro Santana Lopes chegaram quarta-feira a um "acordo de colaboração institucional" em resultado da "coincidência de pontos de vista quanto a estratégia" a seguir, disse fonte próxima do presidente social-democrata citada pela agência Lusa. Esse acordo, acrescentou a fonte, surgiu em resultado "da coincidência de pontos de vista quanto à estratégia a seguir nos próximos anos" pelo partido. A forma como se consubstanciará esse acordo será anunciada por ambos "em tempo oportuno", adiantou ainda a fonte.
Marques Mendes era uma nulidade enquanto líder. Foi visível a falta de capacidade quer no interior do partido para motivar bases, quer no exterior para aproveitar as falhas de um governo que começa a apresentar os primeiros sinais de algum cansaço. Ainda assim, Menezes será pior que uma nulidade, tal como Santana foi. Pior que não ser, é ser mau. E esta "coincidência de pontos de vista quanto a estratégia" a seguir diz bem do que serão os próximos tempos à semi-direita. O que é profundamente preocupante. Mário Soares já o disse, mas vale a pena repetir: é mau ter uma oposição fraca, que não é capaz de controlar minimamente o governo e as instituições de Estado. À esquerda nada se espera. O BE cada vez mais comatoso e um PCP ridículo de tão anacrónico. O CDS do taxi evaporou e não regressará tão cedo. Sócrates, de quem se esperava menos mas a quem se exige mais, não tem qualquer sombra e não se sente pressionado, por exemplo, a remodelar o elenco governativo. O "acordo" entre Menezes e Santana prevê, quase certamente, uma idiotice: a liderança da bancada parlamentar por este último. Olhando para a história recente do sistema democrático, rapidamente se vê que o último líder partidário que efectivamente ganhou o poder foi António Guterres. E a este, independentemente de tudo o que se passou (sobretudo no segundo mandato), ninguém tira o facto de ter ganho o país na Assembleia, com debates fortíssimos contra um governo então vacilante. Para o líder do PSD, seja quem for, entregar a liderança da bancada a outrem é suicídio político. Entregar a Santana Lopes é mergulhar o PSD na sua mais profunda crise desde o 25 de Abril. O que seria cómico se não fosse trágico.
quinta-feira, outubro 11, 2007
Nobel
O Animatógrafo estranha que a senhora Lessing seja premiada em 2007 por uma obra publicada em 1962, e cuja obra tenha tido nos últimos 15 anos uma presença errática e discreta na história da Literatura.
O Animatógrafo reitera, uma vez mais, a pergunta anual: depois do reconhecimento do neo-realismo encapotado de Saramago, para quando o reconhecimento da universalidade emocional e do risco de António Lobo Antunes? Ah, pois é...
domingo, outubro 07, 2007
Viagem ao Passado Recente - IV
sexta-feira, outubro 05, 2007
DocLisboa 2007
1) -Elle s'appelle Sabine, de Sandrine Bonnaire (França, 2007, 85', Competição Internacional): O primeiro e inesquecível filme da actriz Sandrinne Bonnaire (protagonista de obras de Maurice Pialat, Claude Chabrol e Jacques Rivette) é dedicado à sua irmã autista, Sabine. O filme reúne vinte e cinco anos de filmes e fotografias de família e revela o processo pelo qual a personalidade da irmã foi destruída não só pela doença, mas também por um sistema de saúde incapaz de diagnosticar e apoiar adequadamente os pacientes autistas. Repleto de afecto fraternal mas sem qualquer concessão ao sentimentalismo fácil, "Elle s'Appelle Sabine" é um acto político de grande coragem. Através de um caso particular, o filme questiona o sistema de saúde psiquiátrico e o funcionamento das famílias, que tantas vezes julgam proteger-se do sofrimento afastando os inadaptados.
2) - Jesus Camp, de Heidi Ewing e Rachel Grady (EUA, 2006, 85', Competição Internacional): "Jesus Camp" é um filme sobre um campo de férias para crianças organizado pelo movimento de cristãos evangelistas americanos. Acreditando que as crianças devem estar na vanguarda do cristianismo evangélico, o campo incute-lhe um proselitismo militante (as crianças são persuadidas a "devolver a América a Cristo") e encoraja-as a participar activamente nas causas conservadoras promovidas pelas suas igrejas: entre muitas outras, a defesa das teorias creacionistas sobre a evolução da vida na terra, a relativização dos perigos do efeito de estufa, ou a luta pela ilegalização do aborto nos Estados Unidos. A controvérsia provocada pela estreia do filme nos Estados Unidos acabou por levar ao encerramento do campo.
3) - Rebellion: The Litvinenko case, de Andrei Nekrasov (Rússia, 2007, 105', Competição Internacional): "Rebellion: The Litvinenko Case" foi apresentado em primeira mão no último festival de Cannes, numa sessão coberta de secretismo e com importante aparato de segurança. Este documentário toma o assassinato de Alexandr Litvinenko, ex-agente da polícia de segurança russa (o FSB, sucessor do KGB), como ponto de partida para denunciar a política de medo instigada por Putin para controlar a oposição. Segundo Nekrasov, o FSB tem sido o principal instrumento dessa política, ameaçando e até mesmo matando todas as vozes críticas do regime. Além das entrevistas com Litvinenko, envenenado em Londres com material radioactivo depois de ter denunciado as acções ilegais da FSB, o filme de Nekrasov inclui ainda entrevistas com Anna Politkovskaya, a jornalista assassinada em Moscovo em 2006. Sem qualquer pretensão de objectividade, "Rebellion: The Litvinenko Case" é um filme-bomba arremessado contra a Rússia de Putin.
4) - SchoolScapes, de David MacDougall (Austrália, 2007, 77', Competição Internacional): Inspirado pelo cinema dos irmãos Lumière e pelas ideias do pedagogo indiano Jiddu Krishnamurti, o realizador australiano David MacDougall, nome fundamental do "cinema etnográfico", rodou este filme experimental na Rishi Valley School, no sul da Índia. Fundada por Krishnamurti, a escola é conhecida por aplicar os seus métodos de aprendizagem centrados na observação do mundo. Foi essa mesma premissa que marcou o início do cinema e que mais entusiasmou os primeiros espectadores. "SchoolScapes" tenta recapturar essa frescura da observação do mundo através de uma série de planos dedicados ao acto, tão simples, de olhar o que está à nossa volta.
5) - The Halfmoon Files, de Philip Scheffner (Alemanha, 2007, 87', Investigações): Durante a Primeira Guerra Mundial, os prisioneiros de guerra detidos no campo de "Halfmoon", nos arredores de Berlim, foram objecto de vários projectos de investigação científica. Um desses projectos consistiu na gravação das diferentes línguas e canções daqueles soldados, provenientes maioritariamente das colónias europeias na Ásia e na África e por isso considerados tão "exóticos" pelos cientistas alemães. Essas gravações fonográficas, que constituem hoje o acervo principal do Museu do Som de Berlim, foram o ponto de partida de "The Halfmoon Files", recuperação fantasmagórica de um passado a que apenas se pode aceder pelo som. Construído como um puzzle, reunindo peças dispersas de uma cuidadosa investigação, o filme é uma bela homenagem aos desaparecidos da história.
6) - Arquitectura de Peso, de Edgar Pêra (Portugal, 2007, 24', Competição Nacional): Respondendo a um desafio da Trienal de Arquitectura de Lisboa, o último filme-provocação de Edgar Pêra mostra quatro grandes obras públicas que "projectaram" Portugal na Europa: o Centro Cultural de Belém - onde há quatorze anos Portugal presidiu à CEE; o Parque das Nações - palco da Expo’ 98; Os estádios de futebol - para o Euro 2004; e a Casa da Música - originalmente concebida para o Porto Capital Europeia da Cultura 2001. Recorrendo a imagens de arquivo e à música de Nel Monteiro, "Arquitectura de Peso" é o resultado do confronto de um "tempo de antena musical popular" com o documentário de propaganda de arquitectura do Estado.
7) - JLG/JLG: Autoportrait de Décembre, de Jean-Luc Godard (França/Suiça, 1994, 55', Diários Filmados e Autoretratos): "JLG/JLG: Autoportrait de Décembre" é tudo menos um auto-retrato feito para a eternidade, uma biografia pormenorizada ou um testamento artístico. Godard propõe-nos, muito pelo contrário, o registo de um momento específico da sua vida através de um filme feito de planos fixos das paisagens nevadas do lago Léman e do interior da sua casa, assombrada pela silhueta do realizador e por uma banda sonora onde se cruzam duas vozes, a do realizador e a do "actor".
8) - Sicko, de Michael Moore (EUA, 2007, 74', Sessões Especiais): O novo filme de Michael Moore combina o humor com o horror para denunciar as debilidades do sistema de saúde americano, minado por décadas de subfinanciamento público e pela concorrência dos seguros privados. Recorrendo mais uma vez ao seu estilo de investigação muito particular, Moore revela os casos de doentes americanos cujas vidas foram destruídas e compara o sistema americano com o de outros países, como o Canadá, França ou Cuba, acabando por concluir que a melhor maneira de permanecer saudável nos Estados Unidos é mesmo não adoecer.
9) - When the Levees Broke: a Requiem in Four Acts, de Spike Lee (EUA, 2006, 240', Sessões especiais): Não foi o furacão Katrina que destruiu Nova Orleães: foram os diques, quando cederam à força das águas e inundaram grande parte da cidade. Filmado logo após o desastre, o último filme de Spike Lee é um retrato tocante dos efeitos de uma das piores catástrofes que jamais atingiu os Estados Unidos. Com depoimentos de mais de cem pessoas, "When the Levees Broke" dá conta de tragédias pessoais e das estratégias de sobrevivência de uma cidade habituada a lutar contra a adversidade, mas absolutamente incapaz de imaginar que, abandonada pelo seu próprio governo, seria obrigada a enfrentar sozinha toda aquela destruição. Ninguém em Nova Orleães esquecerá que ao visitar a cidade após a catástrofe o presidente nem sequer saiu do avião. Preferiu ver apenas a cidade de cima. Com música de Terence Blanchard. Vencedor do Human Rights Film Network Award e do Venice Horizons Documentary Award no F stival de Cinema de Veneza em 2006.
Pelo amor da Santa, vão ao cinema. DocLisboa 2007, de 18 a 28 de Outubro.
(textos retirados do programa oficial, disponível em http://www.doclisboa.org/downloads/pt_programa_2007.pdf)
domingo, setembro 30, 2007
Das mulheres que dormem de boca aberta
Uma mulher que dorme de boca aberta é um fantasma moderno. Enquanto um homem que dorme de boca aberta parece apenas idiota, uma mulher transforma-se num ser abstracto, que tanto pode apelar à dimensão estética do oculto, como revelar-se uma borboleta esquecida da natureza nocturna, à espera de ser resgatada. Existem vários tipos de mulheres que dormem de boca aberta: as que mostram apenas os dentes nos combóios da CP, subtis, de tez lânguida e envergonhadas no sono, que não apelam a nada sensual; as mulheres-macho que imitam o Felisberto de S. Paio e se escancaram ao oxigénio, colocando as amígdalas a arejar, eliminando assim quaisquer pólipos mais resistentes à Aldeia Velha nas cordas vocais; as que intercalam o ângulo de 30 graus quando vão no lugar do morto com uma boca erradamente fechada, oscilando entre o desejo sexual pelo ar que entra na janela e a reminisência da chucha de borracha castanha da sua infância tardia. E depois as que apelam a lugares pouco comuns da literatura, movidas na noite por um leve arfejo do peito, como que espantadas mas convencidas, num limbo dir-se-ia psicosomático, a assomar a substâncias apenas ligeiramente narcotrópicas, como o alecrim. Estas, as mais raras e assim as mais sensuais, exalam um odor pela pele que difere do reflexo da luz na ria de Aveiro por meros quatro cromas, e levam qualquer homem à loucura, tomado em si por um nível de ternura insuportável mesmo para os mais maricas. Vários estudos comprovam que uma larga percentagem de homens com problemas de insónia documentados são precisamente testemunhas destas visitas fantasmáticas e, tolhidos no seu sono por tal imagem, desaparecem do campo do descanso para nunca regressarem verdadeiramente. O número destas mulheres está em queda, sobretudo em países com filmografias menores, como a Moldávia (onde predominam as Mulheres que cultivam o buço, o que cria um peso extra que obriga a boca fechada) ou as Ilhas Canárias (que, não sendo um país, convoca-se como microcosmos onde as mulheres, quando de boca aberta, não dormem nem deixam dormir). Um fantasma que dorme de boca aberta é uma mulher moderna.
quarta-feira, setembro 26, 2007
A terceira perna
Se tudo correr bem, amanhã levantar-me-ei cedo, "porque não consigo dormir mais com as dores nas costas", digo "bom dia" à miúda gorda da padaria que espreita o movimento da rua antes das nove à sombra de um Português Suave, cruzo-me com o carteiro que me ignora, e passo a manhã escondido atrás de "A Bola" na leitaria do mercado, para me surpreender perto do meio dia com as horas e regressar, calmo, a pensar que qualquer dia uma bengala não era assim uma ideia tão má.