Artrose

Dias de férias passam e muita coisa surge para postar. Aquele sentimento de "ah, se eu tivesse aqui um portátil" invade-me o cérebro a cada 15 minutos. Mais ainda, o delírio no sentido de "ah, se postar fosse cosa mentale". Depois chega-se à frente do monitor e os dedos ganham uma artrose súbita, qual quadro do orçamento rectificativo com "falha técnica", e não sai nada. Pior, os olhos assumem a consciência que não olharam para um monitor durante dias e veem tudo meio turvo, como se a radiação luminosa emitida pelo LCD fosse o beam do Scotty (sem segundas intenções, atenção) em dia de nevoeiro. Isto das férias é tão saudável que dá-me cabo da saúde.

Férias

É verdade: vou de férias. Aliás, já estou de férias. Mas isso não quer dizer que o Animatógrafo esteja de férias também. Pelo contrário, continuará a sua tarefa de calúnia desmedida e atenção incomensurável (ou não...). De qualquer forma, é possível que os posts sejam mais espaçados (ou não...). E há a promessa de tentar postar da Bélgica, onde vou visitar o amigo do blog aqui ao lado, o "Portugal a 2500 Kms". De qualquer forma vão passando por cá, que para preguiça já chega durante o trabalho, nas férias quer-se é actividade mental intensa! (ou não...)

Chupa no dedo

"A tentativa de erguer o maior chupa-chupa do mundo numa praça de NOva Iorque acabou numa cena própria de um filme de Hollywood, na quinta-feira. Com 7,5 metros de altura e mais de 17 toneladas de peso, o chupa-chupa feito de compotas geladas acabou por sucumbir ao calor mais rapidamente do que se esperava, inundando a Union Square, no centro de Manhattan, com fluidos de kiwi e morango. "Já planeávamos que isto acontecesse... só não esperávamos que acontecesse tão rápido", explicou a porta-voz da empresa de chupa-chupas que patrocinou o evento."

Público, 25 de Junho, pag. 50

Oiçam





Bloc Party, "Silent Alarm"
LCD Soundsystem, "LCD Soundsystem"

Ainda Cunhal

Ainda no espírito da posta de sexta-feira, limito-me a transcrever o texto de Vasco Pulido Valente no Público do mesmo dia. Subscrevo por inteiro. Ora o Vasco diz que:

“Parece que Álvaro Cunhal foi uma figura “importante”, “central”, “ímpar” do século XX português. Muito bem. Estaline não foi uma figura “importante”, “central”, “ímpar” do século XX? Parece que Álvaro Cunhal foi “determinado” e “coerente”. Hitler não foi? Parece que Álvaro Cunhal era “desinteressado”, “dedicado” e “espartano”. Salazar não era? Parece que Álvaro Cunhal era “inteligente”. Hitler e Salazar não eram? Parece que Álvaro Cunhal sofreu a prisão e o exílio. Lenine e Estaline não sofreram? As virtudes pessoais de Álvaro Cunhal não estão em causa, como não estão as de Hitler, de Estaline, de Lenine ou de Salazar. O que está em causa é o uso que ele fez dessas virtudes, nomeadamente o de promover e defender a vida inteira um regime abjecto e assassino. Álvaro Cunhal nunca por um instante estremeceu com os 20 milhões de mortos, que apuradamente custou o comunismo soviético, nem com a escravidão e o genocídio dos povos do império, nem sequer com a miséria indesculpável e visível do “sol da terra”. Para ele, o “ideal”, a religião leninista e estalinista, justificavam tudo.
Dizem também que o “grande resistente” Álvaro Cunhal contribuiu decisivamente para o “25 de Abril” e a democracia portuguesa. Pese embora a tradição romântica da oposição, a resistência comunista, como a outra, em nada contribuiu para o fim da ditadura. A ditadura morreu em parte por si própria e em parte por efeito directo da guerra de África. Em França, a descolonização trouxe De Gaulle; aqui, desgraçadamente, o MFA. Só depois, como é clássico, Álvaro Cunhal aproveitou o vácuo do poder para a “sua” revolução. Com isso, ia provocando uma guerra civil e arrasou a economia (o que ainda hoje nos custa caro). Por causa do PREC, o país perdeu, pelo menos, 15 anos. Nenhum democrata lhe tem de agradecer coisa nenhuma.
Toda a gente sabe, ou devia saber, isto. O extraordinário é que as televisões tratassem a morte de Cunhal como a de um benemérito da pátria. E o impensável é que o sr. Presidente da República, o sr. Primeiro-ministro e dezenas de “notáveis” resolvessem homenagear Cunhal, em nome do Estado democrático, que ele sempre odiou e sempre se esforçou por destruir e perverter. A originalidade indígena, desta vez, passou os limites da decência. Obviamente, Portugal não se respeita.”

Pra refrescar...

Cunhal

Ok, o homem levou muita pancada, era um tipo fixe, resistente, convicto. Mas alguém se lembra do 25 de Novembro? Alguém sabe o que é ser "leninista"? Caraças, tenho-me na pessoa de um tipo de esquerda, mas o camarada quiz fazer um golpe de Estado! Alguém tem dúvidas que se tem conseguido, hoje Portugal seria como Cuba? Ontem ao almoço um muito bom amigo meu dizia "ok, mas já não há politicos assim, é o preço da coerência". Mas quando as ideias em que acreditamos estão provadamente desajustadas da realidade e conduzem à falta de liberdade, não passa de coerência a teimosia? O editorial do Diário de Notícias de ontem assumia que a multidão e as manifestações de respeito eram em virtude da derrota. Na prática, Cunhal foi um derrotado: no Estado Novo porque sofreu tortura e não tinha liberdade, no 25 de Abril porque foi feito pelos militares, no 25 de Novembro porque não tinha força suficiente, e na democracia porque acabou como eremita de si mesmo, como fantasma permanente do partido. E os portugueses são pródigos em louvar os derrotados, especialmente depois de mortos. Aliás, os portugueses são pródigos em louvar os mortos. É uma espécie de "coitadinho, até não era má pessoa, pronto tinha lá o seu feitio, mas morreu novo". E o morreu novo vale até aos 80 anos, mais ou menos. Quanto a Cunhal, e como disse Mário Soares, foi um homem do século XX.

21€

Estive para postar sobre o tratado constitucional na noite do "Non" francês, e depois na do "Nee" holandês. Das duas vezes, uma vozinha chata da minha cabeça martelava-me: "não fales sem ler, tens que ler primeiro o tratado, senão não faz sentido, não fales do que não sabes, lê primeiro". Fraco como sou, não disse nada, porque tive aquela que seria uma ideia feliz: comprar o tratado na Feira do Livro, juntando o útil ao agradável. Ontem desloquei-me à dita, que agora começa no pirilau do Cutileiro e alarga-se até às gruas do marquês (alguém repara na ligação gráfica?). Em dia de jogo da selecção, e com o IVA prestes a passar para 21 por cento, não eram muitos os que se arrastavam entre a "barraquinha das bíblias" e seccção infantil. Objectivo n.º 1: comprar o guia de Bruxelas, Gand, Antuérpia e Brugges mais barato que na FNAC. Ao fim de 10 minutos: conseguido. Objectivo n.º 2: comprar a versão portuguesa do tratado constitucional europeu. E aqui a porca torce o rabo (não costuma vir torcido de nascença? não tenho visto a Quinta das Celebridades, não sei...). Meus caríssimos amigos, neste país, um documento sobre o qual muito possivelmente seremos chamados a opinar (ainda que de forma maniqueisticamente democrática) custa 21€ na Feira do Livro, e só há uma edição! 21 EUROS EM PROMOÇÃO! UMA EDIÇÃO! e ninguém reclama! Aliás, não vi ninguém minimamente interessado. Caramba, ninguém quer ler aquilo? Só o Pacheco Pereira é que tem uma? Quantos deputados leram o documento? CARAÇAS, QUE PAÍS É ESTE? Como bom português, vou tentar arranjar o documento na internet, lê-lo, e depois formar a minha opinião. E se arranjarem maneira de não haver referendo, faço como fiz quanto à extinção da editoria de Cultura da Agência Lusa: envio um e-mail ao nosso primeiro. Cujo gabinete até respondeu....

Natureza morta

Feira do Livro de Lisboa, ontem 19:32h: Clara Pinto Correia sentada a uma mesa de madeira de caneta em riste. Ninguém se aproxima durante largos minutos. Uma velha aproxima-se então. Clara sorri e prepara a caneta para o autógrafo. A velha dispara: "ó menina, onde é a barraquinha para comprar as bíblias?"