Vénia do Dia: Martha Wainwright

A minha palavra favorita da semana XX


Epicurismo

Vénia do Dia: Diane Cluck

A minha palavra favorita da semana XIX


Wait

décimo sexto regresso

décimo quinto regresso

décimo quarto regresso

sabes bem que o judaísmo é uma história. e que apenas o suicídio é uma saída limpa para o real, porque mais real. no princípio as muralhas baixas do aqueduto aqueciam as madrugadas, quando o erotismo se confinava ao cheiro do tabaco entre os dedos, e o quotidiano limitava-se a avançar. agora tudo se reduz como açúcar. agora todo o comum corpo de militares desaparecidos nas feridas cria família nas esquinas, enquanto as putas seguram as pálpebras em frases da Judeia. sabes que a morte é uma sobremesa. e que te limitas a reconhecer o presente enquanto dadaísmo de um tempo passado, onde as garças pintavam o peito como abutres das faias, e o odor das azedas te aparecia como um vómito dos doentes encarcerados. existiam furtos. existiam aproximações cromáticas ao reino. existia transpiração sólida dos humores, enquanto alguns gatos se batiam pela espinha. sabes bem que tudo se manteve na linha grossa da lembrança.

dói-te a distância no peso do peito, ou começas a arrepiar-te, pelos genitais científicos, e a qualificação das coisas ganha olhos que nunca pensaste possíveis. regressa ao ínfimo da tua infância, onde devias ter passado à literatura enquanto personagem. regressa.

Genéricos de TV III - Dead Like Me

A minha palavra favorita da semana XVIII


Quase

Barcelona: as fotografias











Tratado de Lisboa: vida, morte e ressurreição

Era de esperar. O ambiente político na Europa há muito que azedou. A clivagem dos cidadãos com a classe política é já um clássico, que tinha mostrado uma face irada nos referendos francês e holandês da Constituição. E a partir do momento em que um novo documento, um tratado, tinha que ser referendado por pelo menos um país, o desastre estava à espreita como uma criança, honesto mas fulminante. E no fundo a culpa disto tudo é da democracia. Em teoria, eu sou totalmente pró-referendo. Votei em todos os que foram levados a cabo em Portugal, e, em teoria, é o melhor instrumento de aferição directa da opinião pública sobre um determinado assunto. Ora o problema é que este instrumento democrático, criado à luz dos sistemas político-partidários ocidentais como forma de ultrapassar o hiato entre representantes e representados, é utilizado pelo cidadão como arma de arremesso contra o poder instalado, localmente. Pervertida toda a intenção nobre da coisa, o resultado é uma des-representação da opinião pública sobre o tema. Em França isto foi mais do que evidente. E agora na Irlanda, país insular, charneira na origem da tradição anglo-saxónica e incluído no nada europeísta Reino Unido, os 53 por cento de votantes que disseram não ao Tratado de Lisboa estariam mais a pensar na situação doméstica, nos combustíveis ou no governo do que no bem comum da comunidade (e, logo, abstractamente, no seu). O resultado é mais um enorme balde de água fria na Europa. Os líderes europeus estariam convencidos na ratificação parlamentar como forma de ultrapassar o problema da aprovação e activação do novo tratado. Em 18 países conseguiram-no, sem dramas nem manifestações, ou sequer interesse por parte de sociedades mais preocupadas com outras dimensões do quotidiano. Mas pouco mais de 300 mil irlandeses deram a volta à coisa, quase todos arrisco sem ler o Tratado, e agora é ver o que dá. Sim, o tratado de Nice também só foi ratificado pela Irlanda à segunda. E sim, parece claro que a pressão vai aumentar, com a continuidade das ratificações até ao limite. Mas tudo isto mostra que os europeus, em larga maioria, estão terrivelmente mais preocupados com o dia de hoje do que com a Europa de amanhã. Os europeus, na verdade, são mais irlandeses, franceses, holandeses e portugueses que europeus. E assim a construção europeia faz-se apenas no papel, em salas de Estrasburgo ou Bruxelas. Assim todos se esquecem que a livre circulação de bens, pessoas e valores é um dos reflexos "dessa" Europa, bem como a maior equidade entre nações, ou um posicionamento securitário mais consistente (ainda que longe do desejável). O todo, que por lei geral do universo não é a soma das partes, parece condenado à soma de cidadãos sem vistas de cidadania. Olha para ti Europa, a magreza não te fica bem.

Mulheres levadas da breca XI



Lauren Ambrose

Desabafo mental (X)

Sou um cobarde. Se tivesse tomates, largava este lindíssimo país de merda, com atrasos estruturais e uma total incapacidade para evoluir de forma visível, e arriscava a vida lá fora. Se calhar andava aos papéis, se calhar bulia uns anos como um cão, mas tinha para mim que o risco, em si, valia a pena. Em vez disso, conscientemente, contento-me com esta realidade parcial, em que nos arrastamos em lamentações, temos vergonha uns dos outros e do que não conseguimos juntos. Foda-se para isto.

A minha palavra favorita da semana XVII


Sheldru

Genéricos de TV II - Carnivale