Há um ano

Há um ano escrevi eu, aqui mesmo

Em Beijing ainda é 2004. Os rituais que marcam a passagem do tempo são fenómenos culturais enraizados no mais íntimo pessoal das sociedades, antropologicamente e socialmente estudados, assumidos como manifestação necessária à organização mental, motivando a gestão de expectativas que conduz a conduta da maior parte dos seres humanos. Mais do que isso, a definição de períodos de tempo de natureza organizativa (semanas, meses, anos), ainda que baseados em noções científicas da interacção da Terra com o Sol, assumem contornos de necessidade em termos económicos, burocráticos e organizacionais para um funcionamento social mínimo com o própósito de evitar a violência (no sentido abstracto e lato do termo).

Um ano podia ter 364 ou 366 dias. Seria igual. Na China ainda é 2004. A morte não sabe contar.


A morte não aprende.

Anti-listas 2

O post anterior não era para ser nada daquilo, mas enfim. Voltando à vaca fria, ou seja, à história das listas, há anos em que se olha para uma lista de discos ou de filmes ou de livros, e tirando os primeiros dois ou três o resto é refugo. É o melhor porque não havia mais nada, ou porque o resto era tão mau que teve que se meter aquilo. São os "anos-zero" em que o que é que se passou de jeito na cultura? Zero. 2005, para o bem e para o mal, não vai entrar nas calendas (como se alguém se vá lembrar daqui por algum tempo disto) como um "ano-zero". Em termos de música, por exemplo, o padrão de qualidade das edições de 2005 é francamente bom, no panorama internacional pelo menos. Há Arcade Fire, debutantes. Há Animal Colective. Há Sufjan Stevens. Há Paul McCartney com o melhor album da carreira a solo. Há Rolling Stones com o melhor das últimas duas décadas. Há Depeche Mode com um dos melhores da carreira. Há Fiona Apple melhor que nunca. Há Kate Bush de regresso em grande. Há Kanye West a baralhar o mainstream. Há Nine Horses. Há Vetiver, Eels, Sofa Surfers. Há Bernardo Sassetti em várias frentes. Há Clã ao vivo. Há Antony. Há Rufus Wainwright. Há Efterklang, Gorillaz, Andrew Bird, White Stripes, Sigur Rós, Patrick Wolf, Brian Eno, LCD Soundsystem, Jamie Lidell, Khonnor. Caraças, há uma dificuldade em fazer uma lista de primeiro para último. Deixem lá as listas.

Anti-listas

Pelo post do Natal se percebeu que esta ideia de Fim-de-Ano também não é bem a minha noção de "divertimento-equiparado-a-sexo". Não, não é. Uma das coisas que ajuda é a mania das listas. Os melhores, os piores, os mais isto, os mais aquilo, os mais cócó, os mais titi, os menos pupu. Estas coisas dão azo, aliás, a enormes equívocos, como um livro qualquer do Salman Rushdie, imaginemos, ser editado na versão original no Reino Unido em finais de Novembro de um ano e em português em Fevereiro seguinte. Se chegar a qualquer lista, cai em listas de anos diferentes, quando, de facto, deve ser analisado à data da sua publicitação primeira. Mas ninguém pensa nisto. Toda a gente gosta dos mais de, dos menos de. É uma espécie de ajuste de contas. Antigamente (agora não sei) havia a mania de publicar "O livro do ano x", todos os anos. Por oferta de um falecido, tenho o de 1975. É aquela noção de história vertical, com o tempo cortado aos bocadinhos, em fatias de 365 dias. E vai-se ver quantas nozes, passas e cabelos tem cada fatia, para ver se a outra ao lado foi melhor. Curiosamente, a ideia de História (enquanto ciência) que me foi passada no ensino secundário preferia a noção de época e, depois mais específicamente nalguns casos, de século. Pode argumentar-se que o tipo de organização é similar e é tudo uma questão de escala. Mas não me parece. A mim interessa-me pouco o livro de 1984 ou o de 2014, mas é muito mais interessante o século XX ou XXI, ou metades destes. É a diferença entre cortar fatias do bolo e analisar uma a uma sem ver as outras ou cortar o bolo ao meio, na horizontal, e ver como as nozes, passas e cabelos se distribuem ao longo da massa. É a tal coisa, o segredo tá na massa.

Daltonic Brothers, Dead Combo, Edgar Pêra

Para os que não sabem, eu confesso: tenho um problema de sensibilidade cromática. Ou seja, não sou completamente daltónico mas tenho umas arrelias com cores, nomeadamente com meios tons, cores cruzadas, e aquelas que não existem a não ser na cabeça das mulheres (mas com estas qualquer homem tem problemas). Descobri isto, imagine-se, na inspecção para o serviço militar. Nuns cartões redondos onde supostamente estavam uns números numa cor em fundo (o cartão é dominado por uma em primeiro plano), eu não vi números nenhuns. Nada. Apenas uma mancha verde e a cara do tipo que já ia a escrever "apto", também ela verde a pensar que eu tava armado em parvo. Como a minha cara de parvo a dizer "quais números???" era verdadeira, o homem lá rabiscou "problema de sensibilidade cromática". E pronto, foi o que se aproveitou do dia. Desde então que tenho tentado aprender a lidar com isto. Não é fácil. Ter dúvidas se uma camisola é preta ou castanha, e não querer fazer a figura "ó menina, esta camisola é de que cor?", não é pera doce. Bem como perguntar a duas mulheres diferentes qual a cor da p... da camisola e obter respostas diferentes também não ajuda. Ainda assim, isto tudo para dar conta de mais um blog que merece atenção: o dos Daltonic Brothers. Assumidamente daltónicos, os Brothers são tipos que trabalham na área de imagem e criaram um conjunto de personagens de BD que estão presentes no blog. O resultado é um humor inteligente e muito material multimédia de quem, num futuro próximo, pode vir a atingir o estrelato. Veja-se o exemplo de "Cacto", o primeiro vídeo-clip dos Dead Combo. Foi realizado pelos Daltonic Brothers (e está disponível no blog para quem quiser ver, nos arquivos de Novembro). Aproveitando a deixa, fica também o blog dos Dead Combo. Para quem não conhece, estamos a falar de Tó Trips e Pedro Gonçalves, o duo maravilha que apareceu de forma espontânea em 2003 num álbum de homenagem a Carlos Paredes. Seguiu-se Vol. 1, o primeiro trabalho a sério, e deve seguir-se já o segundo em Fevereiro de 2006. A dupla é quase banda desenhada em forma humana (o chapéu do Trips é impagável) e a música, como eles a definem, é uma fusão entre "o fado e o western" (o que é uma boa definição, de facto, oiçam). Neste caso, o blog foi criado porque os tipos tinham o site oficial desactualizado e aquilo devia dar muito trabalho, pelo que vai de criar um blog, que a malta nao tem pachorra para coisas muito complicadas. Sendo um dos projectos mais originais e interessantes dos últimos anos no panorama musical português (já aplaudido na BBC One, por exemplo), é de seguir as peripécias dos senhores, que até têm dois dedos de testa. E como isto de blogs é como as cerejas (ou seja, come-se cinco quilos e fica-se perto de uma casa de banho, não vá o diabo tecê-las), fica um terceiro que, tal como os outros dois, vai passar a figurar aqui na barra da direita: o de Edgar Pêra. Isto porque os Dead Combo, em posta de ontem, avisam que participaram no novo projecto do Pêra, Rio Turvo. O que põe a salivar um adepto confesso da religião pêriana (que, como toda a gente sabe, promove filmes malucos com inteligência superior e forma muito à frente). O senhor Pêra já rodou Rio Turvo por completo no Verão passado e, pelo blog, dá para perceber que tem Teresa Salgueiro e Nuno Melo nas imagens. O resto é praticamente uma incógnita, porque o blog é como a cabeça do senhor Pêra: fragmentário, assombrado, queimadinho. Li num site estrangeiro (e não consegui confirmar por cá) que o Pêra é o mentor dos Dead Combo. O que explica muita coisa. Ficam os sites:

Daltonic Brothers: http://daltonicbrothers.blogspot.com/

Dead Combo: http://deadcombo.blogspot.com/

Edgar Pêra: http://elementarista.blogs.sapo.pt/

Candidatos-caricatura

Tem sido curiosa nesta pré-campanha, entre outras questões, a ausência de folclore em redor das candidaturas "caricatura". Normalmente é matéria por demais apetecível para os media, nomeadamente a televisão (se calhar estão-se a guardar para a campanha oficial, para ver quem aparece mesmo). Dentro deste saco aparecem os tradicionais Garcia Pereira e Manuel João, mas o novato José Maria Martins. Caramba, escapou-me ou não houve mesmo nenhuma reportagem-choque da TVI sobre o advogado de Bibi? Andam a dormir? Então, só interessam o Soares, Cavaco, Alegre, Louçã e Jerónimo? Os portugueses não querem ouvir as propostas de José Maria Martins? No entretanto, parece que o senhor não entregou as 7500 assinaturas até dia 23 e não vai ter a fronha nos boletins. Se calhar por isso é que o blog oficial do candidato morreu a 22 de Novembro e o site da candidatura exibe "brevemente em linha" em quase todas as páginas. Mas ainda assim, é natural. Repare-se: na página de links, dois são para outras candidaturas, nomeadamente de Manuela Magno e Luís Botelho Ribeiro. A primeira já viu o Tribunal Constitucional dizer que os documentos não estavam conforme a lei, o segundo fez greve de fome até dia 20 de Dezembro (que não dava para resistir às rabanadas). E quem não resiste a rabanadas não dá um bom Presidente da República. Mais vale, pelos vistos, comer bolo-rei de boca aberta. Sim, porque de resto moita-carrasco. Mas voltando aos candidatos-caricatura, eu dava o meu voto, se a eleição fosse só entre eles, ao Garcia Pereira. Num dos debates na RTP, vários dos seus apoiantes foram para a porta do estúdio do Lumiar protestar pela falta de "democraticidade", "contra a censura". Diziam eles, se bem me lembro, que a RTP tinha medo de integrar Garcia Pereira nos frente-a-frente porque ele é "o único que pode fazer frente a Cavaco Silva". E aqui, vamos ver se nos entendemos, a RTP (e os outros canais) deu um enorme tiro no pé, do ponto de vista de audiências. Haveria debate mais apetecido do que entre Cavaco e Pereira? Alguém conseguia desgrudar do ecrã? Não seria bem melhor que uma temporada inteira dos Malucos do Riso? E mesmo entre Louçã e Pereira, ou entre Pereira e Jerónimo, não era impagável? É sempre a mesma coisa: os canais de televisão portugueses têm sempre imensos problemas de consciência em promover o humor de qualidade. Eu suspeito que a SIC Comédia não foi tida nem achada no processo, senão teríamos teasers com a voz do Markl a promover "o choque de titãs entre Garcia Pereira e Cavaco Silva". Dorme descansado, Jerry Seinfeld, it's not going to happen.

Vidas Difíceis IX

"Dois reclusos fugiram esta noite do Estabelecimento Prisional de Alcoentre, depois de terem serrado as grades da cela em que estavam detidos.

De acordo com uma fonte da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, os reclusos serraram as grades da cela com uma lima. A fuga foi detectada pelos guardas prisionais por volta das 06h00 de hoje.

Os dois fugitivos, de 24 e 34 anos de idade, eram reclusos primários (primeira pena de prisão que cumpriam), acrescentou a mesma fonte, escusando-se a especificar quais os crimes e as penas que estavam a cumprir.

As autoridades foram avisadas e está a ser elaborado um inquérito dentro da prisão de Alcoentre para apurar responsabilidades.

O Estabelecimento Prisional de Alcoentre tem uma lotação de 663 reclusos, na sua maioria condenados a penas de prisão superiores a três anos."

Público, 26/12/2005

Errr.... Natal

Ora vamos lá a isto: se há época do ano que abomino (do verbo abominar) é o Natal. Vêm-me à cabeça os adjectivos "execrável", "ímpio", "sacrílego" e outros de igual calibre linguístico. A única outra época, se podemos apelidar assim, de calibre aproximado na minha escala de ódio, é a passagem de ano. Porque vejamos: o Carnaval é completamente idiota mas é a única festa de origem pagã que resta. A Páscoa resume-se a um domingo em que a RTP e a TVI se lembram de passar uma missa e umas centenas de portugueses vão almoçar à Ericeira. As férias de Verão são o apelo nacional à histeria da bejeca com caracóis, em que cada um acha que a vida é linda, e a praia é do camano, e os amigos são do caraças, e vai disto! Agora Natal, caramba, Natal bate tudo. Tem a idiotice do Carnaval, acrescida pelo facto de ser de natureza familiar, tem a missa da Páscoa acrescida de quem não mete lá o cu o resto do ano, tem a histeria das férias de Verão mas sem bikinis ou caracóis, e muito mais, tem o trânsito num pandemónio, tem um país parado porque decisões "só depois das festas", tem hipocrisia às compras nas lojas dos chineses, tem jantares de grupo onde se apanha a bebedeira da época de Inverno, tem piadas sobre a vida sexual das renas, tem jantares de gente intimamente odiada ou desencontros de gente desencontrada, tem menos gatos nos beirais. Não tem nada para mim.

Broken Flowers (****)

Jim Jarmush não é um desconhecido, mas ainda assim o nome não diz nada a muito boa gente. Nascido em 1953 em Akron, Ohio, tem em Dead Man, de 1995, o filme mais emblemático. Depois disso fez Coffee and Cigarettes (aliás, já tinha feito antes muita coisa com este título), que praticamente não conta por se ficar pelo exercício de estilo e ensaio à volta de um tema. E agora, Broken Flowers. Caraças, Broken Flowers! É verdade que aquela onda do "filme norte-americano independente que versa sobre as relações e afectos de forma desconcertante estilo Magnolia" já não é propriamente algo inovador. Há vários e bons exemplos. E também é preciso compreender que, nos dias que correm (expressão que faz pouco sentido para mim nesta data, os dias custam tanto a passar), Bill Murray também já não precisa de provar que é um dos grandes actores que Hollywood desprezou durante anos e que realizadores com dois dedos de testa reabilitaram. Ora, tudo isto faz de Broken Flowers um filme supérfluo? Não. Caramba, não! Jarmush encena a viagem de Don Johnston (Murray), um bem sucedido ex-Don Juan que não precisa de trabalhar e vê a sua vida invadida pela hipótese de ter um filho, desconhecido até então. Em época sabática, Don é quase obrigado pelo vizinho Winston a listar as mulheres que podem ter sido a mãe e ir atrás das suas vidas. Em regime muito literário, Jarmush escreveu Broken Flowers com objectivos muitos precisos. Primeiro, a personagem de Don foi assumidamente escrita para Murray, e isso transparece em todas as imagens, retirando a Murray todo o seu potencial de actor dramático, dir-se-ia, não reagente. Segundo, Jarmush sabe o que quer expor, até onde quer expor, e os meios para que a exposição resulte. Não é por acaso que Don tem Johnston por apelido, o que motiva a confusão fonética idiota por parte de todas as personagens (Don Johnson era o protagonista de Miami Vice, lembram-se?) e, assim, mais uma acha para a fogueira de absurdos. Não é por acaso que cada mulher assenta num estilo definido e perfeitamente enquadrado na realidade social norte-americana, desde a Laura (Sharon Stone) sexualmente pronunciada e ex-mulher de um piloto de Nascar, a Dora (Frances Conroy) agente imobiliária em cuja casa nada está fora do sítio, passando por Penny (Tilda Swinton) símbolo de "white trash" versão metaleira. Jarmush encena a viagem de Don a um passado que não foi o dele para além de uma de muitas relações enquanto jovem. Mais do que revisitar o seu passado, Don precorre o presente das mulheres que fizeram parte fugaz da sua juventude, criando o confronto original base de todo o filme: o presente alheio de quem passou pelo nosso passado. Nada liga Don aquelas mulheres hoje, a não ser a possibilidade imensamente remota de uma delas ter sido mãe e só agora lhe ter revelado, anonimamente. Na cabeça de Don gera-se o absurdo para além do absurdo, porque não sabe se há filho sequer. Tudo é uma hipótese. E tudo atravessado por um tom desencantado com a vida, refém de nada, com um presente oco que se permite em perseguir um fantasma. Claramente, um filme de Natal.

Oiçam (mesmo)

Ora, a pedido de 348 famílias do leste do Burundi, o Animatógrafo arranjou forma de disponibilizar pequenos samples das sugestões musicais que têm passado por aqui em forma de capa de CD. Como ainda não ganhei coragem para escrever sobre essas mesmas sugestões, cada capa poderá ser acompanhada, a partir de agora, com uma das músicas que compõem o trabalho do/da artista. Como a última foi Stina Nordenstam, essa paladina sueca, aqui fica The Morning belongs to the Night, sétima faixa do The World is Saved cuja capa está ali mais abaixo. Portanto, vai de carregar aqui!

Imagens do demo IV

Roth por Molina

Há textos assim. São raros. Aparecem em dias estranhos, sem aviso, como se dispostos a acordar mentes dispostas a acordar. O Mil Folhas, suplemento literário e não só do Público, publicou ontem uma reportagem/entrevista de António Muñoz Molina a Philip Roth. Molina é espanhol e escreveu "O Inverno em Lisboa", livro praticamente ignorado deste lado da fronteira e que lança uma visão original sobre a cidade e os seus personagens. Roth é norte-americano e uma das vozes mais originais da literatura "across the ocean". O que o Mil Folhas ontem publicou, cortesia do El País, é um documento extraordinário entre dois escritores que se conhecem e aceitaram os papéis de entrevistador e entrevistado. Longe da "pergunta/resposta" comum, o resultado é um misto de reportagem e entrevista, com os pormenores e o olhar que assistem à primeira e a voz que assiste à segunda. Para ler, reler e guardar.

Oiçam



Stina Nordenstam, The World is Saved

Para bibliófilos

O espírito do post anterior se aplica a isto (<- clickar aqui).

"In the spring of 1998, Bluma Lennon, a Cambridge academic who has just acquired a copy of Emily Dickinson's "Poems" from a second-hand bookshop in Soho, is knocked down and killed at a crossroad. Following Bluma's death, a colleague finds in her house a copy of Conrad's "The Shadow Line" inscribed with a mysterious dedication and crusted around the edges with what appears to be cement. Intrigued, the colleague begins an investigation which will take him on a journey from Cambridge to Buenos Aires and across the River Plate to Montevideo as he hunts for clues to the identity and fate of an obscure and dedicated bibliophile. He learns the story of Carlos Brauer, a man whose obsession for books is all consuming. Vast bookcases fill his rooms from end to end, floor to ceiling, forcing his car out of the garage and even himself out of his bedroom and in to the attic. Books are arranged according to a strict system: Shakespeare cannot be placed next to Marlowe, because of accusations of plagiarism between the two, and Martin Amis cannot sit alongside Julian Barnes. All becomes dependent upon a complex indexing system, which will ultimately prove to be the undoing of this man of books."

Porque há obsessões que são como as opiniões (e outras coisas). Cada um tem a sua.

The Plot

Se houver por aí alguém (que eu sei que não há e por isso digo isto com a consciência a ressonar alto) que me queira oferecer algo no Natal e não saiba o quê, aqui fica uma ideia: ofereça-me isto (existe na FNAC por cá). E não me vou alargar sobre a questão, deixo aqui apenas a sinopse, em inglês:

"In a work more disturbing than fiction, "the father of graphic novels" (The New York Times) Will Eisner examines the outrageous fabrication of The Protocols of the Elders of Zion, which purports to be the actual blueprint by Jewish leaders to take over the world. Hatched as an anti-Semitic plot by the tsar's secret police to deflect widespread criticism of the government, the Protocols, first published in 1905, succeeded beyond the propagandistic ambitions of its originators; the lie became an internationally accepted truth. Presenting a pageant of historical figures including Tsar Nicholas II, Henry Ford and Adolf Hitler, Eisner exposes the twisted history of the Protocols from nineteenth-century Russia to modern-day Ku Klux Klan members to Islamic fundamentalists. With an introduction by Umberto Eco, The Plot unravels one of the most devastating hoaxes of the twentieth century and its 2005 publication marks the centenary of the first publication of the Protocols."

Ah, para quem não percebeu, é banda desenhada...

Vidas Difíceis VIII (coisas de putas)

"Na Alemanha, onde a prostituição foi legalizada em 2002, Clare Chapman, 25 anos, formada em tecnologias de informação, pode ficar sem subsídio de desemprego depois de ter recusado um emprego, que requeria prestação de "serviços sexuais" num bordel de Berlim. O caso tornou-se público através da edição online do jornal Daily Telegraph, que explicou que com a legalização da prostituição, os donos dos bordeis - que são obrigados a pagar os descontos e o seguro de saúde dos seus empregados - têm acessos às bases de dados oficiais das pessoas que andam à procura de trabalho. Segundo a publicação britânica, Clare Chapman recebeu uma carta do centro de emprego a informar que havia um empregador com interesse no seu currículo, onde referenciava que já tinha trabalhado num café e disponibilidade para trabalhar à noite. A jovem alemã vem a descobrir que é para trabalhar num bordel. «Não há nada, agora, na lei que evite que as mulheres sejam enviadas para a indústria do sexo», afirmou Merchtchild Garweg, um advogado de Hamburgo. O especialista explica ao Daily Telegraph que «os novos regulamentos afirmam que trabalhar na indústria do sexo já não é imoral, e, portanto, esses empregos não podem ser recusados sem que se perca o subsídio de desemprego».

Destak, pag. 4, 12/12/2005

É este o livro do ano...



... para o New York Times Book Review. Alguém já o viu por aí?

Imagens do demo III

Imagens do demo II

Imagens do demo I

Hey! Vocês aí...

... fãs de White Stripes
... fãs de Michel Gondry
... fãs de Conan O'Brien
... fãs do bom gosto, da criatividade e coisas que tais

vão a http://www.whitestripes.com/ e vejam o vídeo de "The Denial Twist". E já agora aproveitem para ver os outros vídeos realizados por Gondry para os Stripes. Mai nada.

Vidas Difíceis VII

"O caos instalou-se ontem na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, quando um homem que aparentava 25 anos esteve cinco horas pendurado numa varanda do 11.º andar do Edifício Monumental. A situação obrigou a interromper o trânsito na zona e à mobilização de meios do INEM. A confusão começou às 17.00 e prolongou-se até às 22.00, quando os negociadores da PSP conseguiram demover o homem da tentativa de suicídio, cujos motivos não foram esclarecidos. No local dizia-se que "ele gritava querer ir para os Estados Unidos para ser jogador de basquetebol".

Diário de Notícias, pag. 25, 10/12/2005

Frases demasiado boas para existirem III

"Numa das minhas encarnações de mulher estava sentada com um livro no colo mas não lia. O meu peito seria um fole. Um saco de pele animal com pregas que terminaria num tubo de cobre e nesse caso. Teria saído uma pequena quantidade de sangue, porque a tua mão me acariciava."


Mafalda Ivo Cruz, Vermelho, D. Quixote, pag. 129

Oiçam



Elysian Fields, "Burn Raps and Love Taps"

Cunhal por Pacheco Pereira

Infelizmente não existe em Portugal grande tradição biográfica. Aliás, nem pequena. Ainda assim, ninguém ousa afirmar que os portugueses não sabem lidar com a sua história mais recente, nomeadamente do último século. A Alemanha ainda hoje tem problemas (e graves) em digerir o seu século XX. Lembro-me, por exemplo, que numa conferência em Hanover há uns cinco anos senti que todos os intervenientes alemães do meu grupo fugiam de qualquer discussão como o diabo da cruz. Cheguei a confrontar um deles com essa questão e limitou-se a encolher os ombros e abanar a cabeça, como se a dificuldade de confronto, ainda que meramente retórico, fosse algo inconsciente. Nós por cá, ao que parece, não. Todos lidamos bem com os quase cinquenta anos de ditadura. Sabemos o que foi e não temos problemas em falar disso. Aliás, lidamos tão bem, parece, que até integrámos ex-ministros de Salazar, como José Hermano Saraiva ou Adriano Moreira, como figuras distintas da cultura e política portuguesas. É uma das minhas irritações de estimação: a falta de memória dos portugueses. A maior parte não se lembra ao lanche o que almoçou. E portanto, esperar que se lembre que aquele tipo careca e baixinho armado em doutor foi Ministro da Educação Nacional de 19 de Agosto de 1968 a 15 de Janeiro de 1970 é mais utópico que pensar no Benfica a ganhar Liga dos Campeões. E parece que também não há grande interesse em promover a memória colectiva recente. Lembro-me que, nos meus anos de liceu (expressão bonita esta), o século XX português ocupava umas duas, talvez três aulas, enquanto a idade média durava meses (esta também é gira). A onda editorial, hoje, navega a espuma dos Dan Browns que apareceram nos escaparates, encontrando policiais nas páginas da Biblia ou em épocas em que a dita ainda era dita em Latim (e "O Nome da Rosa" do Eco que já tem tantos anos...). Contra tudo isto, aparecem nas livrarias dois esforços que se aplaudem. Primeiro, a "Autobiografia" de Maria Filomena Mónica, eminente catedrática da praça que foi possivelmente a única pessoa a quem ouvi a coragem de afirmar que faltam elites a Portugal (e isto dará para outro post). Ainda não li mas já comprei, e só o esforço biográfico desencantado da própria já vale os euros. Depois, o terceiro volume da biografia de Cunhal, do Pacheco Pereira. Um acto de contrição: já tenho os três volumes e ainda não comecei a ler o primeiro (como dezenas de livros, aguardam nas estantes um dia luminoso que os faça respirar). E portanto não vou aqui fazer considerações sobre os mesmos. Mas é, diria, fantástico o esforço do homem. Não sou, nem de perto nem de longe, da área política de Pacheco. Aliás, tenho pela personagem uma relação de amor-ódio: todo o crédito para o Pacheco analista e literato, bílis verde para o Pacheco político candidato (como nas Europeias). Mas é extraordinário o esforço de trabalho de investigação, análise e tratamento da vida de Cunhal feito por Pacheco. Pacheco defende, e bem, que Cunhal foi uma personalidade chave no século XX português e que tudo o que se consiga iluminar sobre o seu percurso é saudável para a recuperação e manutenção da memória colectiva portuguesa. Ou melhor, para a sua construção. Posto isto, o homem leva a coisa tão a peito que, já com o livro nas prateleiras, decidiu criar um blog dedicado aos livros. E para quê? Para "errata, correcções, adendas, notas suplementares, críticas, referências". Pacheco Pereira não se limita a editar os livros, prossegue depois todo um trabalho de polimento da obra, corrigindo à medida dos dias, reunindo impressões, desenvolvendo um trabalho de feedback que não se esgota no livro objecto impresso mas que se encaixa no seu projecto real: o da investigação sobre Cunhal. Pacheco aproveita notas de leitores, correcções quer de estrutura (como errata) quer factuais (muitas por indicação de leitores), recolhe críticas de qualquer índole. É obra. Curiosidade maior, está já disponível o comunicado do PCP sobre este terceiro volume agora publicado. É história em directo. O blog chama-se "BLOGUE DO LIVRO ÁLVARO CUNHAL - BIOGRAFIA POLÍTICA" e está aqui.

Frase do dia

"Diria que é um bocado como o Melhoral, não fez bem, nem fez mal"

Jerónimo de Sousa, quando perguntado se a eleição de Durão Barroso para a Comissão Europeia foi benéfica para Portugal, Público, pag. 4, 08/12/2005

Nippon Koma: balanço

A semana passada estive calado que nem Cavaco porque passei seis dias a caminhar para a Culturgest, estilo devoto. O Nippon Koma, festival de cinema japonês que fez a sua terceira aparição na caixa forte lisboeta, teve 12 sessões, e o Animatógrafo esteve presente em 8. De entre muita coisa que meia dúzia de gatos pingados viram fica aqui um mui breve balanço.

Nota positiva para:

Agente Paranóia: Animação criada como série de televisão com quatro volumes (cada um com 4 episódios, aproximadamente), dos quais foram projectados os dois primeiros volumes (os sete primeiros episódios), é um fantástico trabalho em termos de argumento e exploração de técnicas tradicionais de cinema adaptadas a televisão. Partindo da agressão de uma jovem na rua por um puto desconhecido, que é baptizado como Lil'Slugger, toda a série se aproxima do thriller psicológico, introduzindo sempre que possível questões e temas eminentemente nipónicos, como os problemas de identidade por exemplo. O resultado não se recomenda a criancinhas e é óptima animação a todos os níveis. Ou seja, se David Lynch fizesse anime, possivelmente seria algo muito parecido com Agente Paranóia. Toda a série passou na televisão japonesa (por cá seria impossível, digo eu) e está editada em DVD. Encontram mais informações aqui.

Acidman: Um senhor de nome Nishigori Isao decidiu realizar 16 minutos e 14 segundos visualmente delirantes, que deixam qualquer fã de animação extasiado. Acidman não tem história específica e limita-se a construir ambientes visuais a partir de elementos que vão surgindo, rasgando quaisquer noções de figuratividade que podiam subsistir ainda. Utilizando um conjunto de técnicas 2D e 3D, o resultado é cromaticamente vibrante e sonoramente perfeito, sem pretensões a mais do que mostra na realidade. Na génese do projecto estão duas faixas do próprio Acidman (músico japonês) que não só servem de banda sonora como promovem o desenvolvimento visual do princípio ao fim.

YKK AP Evolution: Curta metragem de minuto e meio com função de anúncio para uma empresa de arquitectura, é a prova de que é possível trabalhar em publicidade para televisão sem recorrer sempre a esterótipos ou inventar grandes reviravoltas para abismar o espectador. Durante 90 segundos um conjunto de formas, como um cubo que se expande e cresce, são colocados em cima de imagens quotidianas, como um comboio em andamento ou uma praia deserta. O resultado é visualmente soberbo e de uma simplicidade desarmante. Se um anúncio vende um produto, eu compro só com aquilo. Neste caso, está disponível aqui, com RealPlayer.

Peep "TV" Show: Talvez o mais emblemático filme que passou. É um documentário em regime livre, sem grandes preocupações de estrutura, que se debruça sobre os problemas do Japão contemporâneo: identidade, relacionamento social, auto-estima, expectativas, orgulho. Peep "TV" Show mostra o Japão das lolitas góticas, dos jovens fechados no quarto durante anos, dos profissionais psicologicamente afectados que falam sozinhos a caminho do emprego, dos sem ocupação que se dedicam a espiar os outros para ver "a realidade". O filme segue Hasegawa e Moe entre 15 de Agosto e 11 de Setembro de 2002. Hasegawa é um voyeur que achou as imagens do 11 de Setembro estranhamente belas e que filma vidas alheias para manter contacto com o real. Moe é uma lolita gótica típica, sem identidade definida e à procura de uma noção de realidade que a prenda à vida. É daqueles filmes duros que nos fazem pensar que, apesar de tudo, a Europa ainda goza de uma sanidade mental invejável... Mais informações aqui.

Nota negativa para:

Naomi Kawase: a realizadora japonesa até foi premiada em 1997 em Cannes. E confesso que não vi o filme que lhe valeu a distinção. Mas os dois que passaram em Lisboa, Kya Ka Ra Ba A e Shadow, são piores que o Jackie Chan vestido de Carmen Miranda em dia de Halloween (que até podia ter a sua piada). O primeiro tem quinze minutos iniciais até simpáticos, em que a autora fala com a avó que a criou depois dos pais a terem abandonado e chega a falar com a mãe sobre o assunto. Mas aí uma doença súbita ataca: a idiotice. E os efeitos são devastadores, acabando com tudo o que de cinema minimamente aceitável poderia surgir. O resto são minutos autobiográficos de uma adolescente de 14 anos (que não é) sem nexo, totalmente gratuitos, com muita vontade de agressão por parte do espectador. Dêem uma máquina digital a qualquer adolescente português e vale mais o dinheiro. O segundo filme centra-se numa situação insólita: um homem filma uma mulher e diz-lhe que é o seu verdadeiro pai. O estado de choque que daí decorre e o facto do homem continuar a filmar, faz com que toda a relação obtusa daqueles dois se passe através da camera. Sem nunca explicitar se a situação é real, a realizadora dá o flanco e acaba também por dar a ideia que encena algo chocante só porque lhe apetece. Uma coisa é um realizador utilizar o seu cinema para abordar temas pessoais como forma de lidar com eles, outra é estupidificar e ter a ideia que as suas misérias interessam a quem se senta na sala.

Yusuke Sasaki: Eu já apanhei muita estucha na vida. A sério, a começar na última consulta do oftalmologista em que estive 4 horas à espera e a acabar no Yi-YI, em que estive 4 horas à espera que acontecesse alguma coisa, já apanhei estopadas de primeira água. E Letter, de Yusuke Sasaki, entrou a semana passada para essa fantástica galeria. Ora a ideia do senhor devia ser fazer um documentário sobre a obcessão das mensagens SMS e, simultaneamente, sobre as dificuldades de relacionamento que atinge o Japão actual. Premissas válidas, portanto. E o que é que o senhor Sasaki decide fazer para falar sobre isto? Ora, qualquer um se lembraria do mesmo: filmar um adolescente num quarto sem luz a mandar e receber sms durante hora e meia, em que só se vê a mão a teclar e a luzinha do telemóvel, intercalados com imagens do visor do mesmo dispositivo. Para ajudar à festa, a criatura alvo tinha a mania de chatear os amigos com mensagens como "O que contas?", "pois", "E mais?", "Não dizes mais nada?", "Yeah! Yahoo!" e outras que tais. Aos 10 minutos, eu já sabia que aquilo ia durar até ao fim. Aos 20 bocejei longamente e olhei para o relógio. Aos 36 martelei a minha consciência por ter a mania de não sair a meio dos filmes. Aos 42 bocejei o relógio e verifiquei se a pilha tinha mesmo energia. Aos 58 procurei por moedas antigas nos bolsos do casaco, só encontrando lenços ranhosos e uma caneca sempre-em-pé. Aos 69 comecei a olhar para as pessoas, à procura de uma gaja boa que assim se sentisse incomodada com o meu olhar e deixasse também de olhar para a tela. Isto demorou 5 minutos, sem resultados, altura em que uma mão por certo divina acendeu as luzes e libertou a minha consciência para ir apanhar arzinho frio na rua. Tão bom.

Quem quiser que escolha

"Anteontem na RTP, Cavaco fez de repente um comentário que revela o homem. A propósito do perigo de conflito com o primeiro-ministro, se fosse e quando fosse Presidente da República, Cavaco disse: "Duas pessoas sérias com a mesma informação (no caso ele próprio e Sócrates) têm (inevitavelmente) de concordar". Cavaco disse isto com toda a naturalidade e convicção, como quem declara uma evidência, sem uma reserva ou a mais leve sombra de ironia. Acha mesmo que sim: que duas pessoas só podem discordar por ignorância ou falta de carácter. Para ele, a verdade é unívoca e, pior ainda, não custa nada estabelecer. O fanatismo nunca falou por outras palavras e quem conserva um reflexo de independência e liberdade com certeza que as reconheceu pelo que elas são: a raíz da mais cega e absoluta intolerância. Estranhamente, ninguém pareceu dar pela coisa: nenhum jornal, nenhum candidato, nenhum partido, nenhum político - nem sequer uma "consciência" qualquer das que por aí sobrevivem, se de facto sobrevivem, à inanidade dos tempos. Não, ao contrário do que o dr. Cavaco julga, a democracia portuguesa não está "consolidada". Se estivesse, ele não era eleito.
Claro que as circunstâncias não permitem que o dr. Cavaco se torne num pequeno ditador. Mas talvez convenha perceber o indíviduo que dentro de semanas vai chegar a Belém. O velho desprezo pela política (de novo flagrante nesta campanha), sempre rejeitada como pura intriga ou jogo de interesses sem legitimidade ou desculpa, não passa de uma condenação sumária da gente pouca séria (ou incapaz), que desvia ou "bloqueia" Portugal. Para o dr. Cavaco, há um "bem da nação" indiscutível e uma única maneira de governar: a maneira honesta e sabedora que ele aconselha e representa. A divergência é, em última análise, anti-nacional. Se os portugueses tivessem no seu conjunto a sua informação e seriedade, viveriam numa perfeita harmonia, em vez de se deixarem levar para aventuras sem futuro, de se perderem em querelas de facção ou ganância e de servirem inconscientemente fins perversos. De Belém, Cavaco tenciona velar para que isso não volte a suceder. Afinal, se o primeiro-ministro não fizer o que ele manda, confirma automaticamente que é mal-intencionado ou que não estudou o que devia. E nós também, cautela. Se não o aprovarmos, quem somos? Malandros de nascença? Uma cambada de patetas? Quem quiser que escolha."

Vasco Pulido Valente, Público, 04/12/2005

Parabéns à prima

"A onda dos blogues vai já alta, já lá vai, como o governo do Santana, entenda-se. Porquê agora? Porque um gajo à sexta-feira à noite ainda no escritório lê um mail de outro gajo algures a tremer de frio no meio da Bélgica, com sintomas ténues de depressão pós-parto, e dá-lhe uma travadinha de partilhar as amarguras com o resto da comunidade que a esta hora está a jantar em frente à Quinta dos Flamengos. A solidão é fácil de definir: é quando milhões de pessoas estão a fazer o mesmo, mas ninguém nos lê..."

Foi com este texto que o Animatógrafo surgiu, fez ontem exactamente um ano. E um ano depois, o que é que temos?...

... a vida está uma merda (já estava, "apenas" piorou)
... o blog tem mais visitas (partindo do zero não é difícil)
... ninguém comenta nada
... alguns papuços querem ser Presidente da República
... alguns papuços querem melhorar as coisas
... alguns papuços estão mais pobres
... alguns papuços estão mais ricos
... muitos papuços estão desempregados (e eu para lá caminho com data certa)
... a vida está uma merda ("apenas" piorou desde há bocadinho)

Posto isto, e a pedido de 348 famílias monoparentais do sul do Malaui, vamos continuar. Eu e o meu alter-ego. Parabéns à prima.