Da experiência que eu tenho destas coisas, que é o que é, os filmes que chegam ali dos lados conturbados do Médio Oriente ou são grandes estopadas ou coisas de bradar aos céus. Do Irão, por exemplo, vieram coisas das duas categorias ainda recentemente. Da Palestina, como é este caso, por vezes há algo assim meio nem carne nem peixe. O que para um filme sobre suicídas não é muito bom. Filmes sobre suicídas deviam ser como os próprios: ou rebenta ou não rebenta. Ou mortos ou vivos. O paraíso, agora! fica-se pela categoria intermédia de morto-vivo. Teoricamente a coisa até é arriscada: Said e Khaled são dois palestinianos escolhidos para um ataque suicída em Tel-Aviv. Ambos estão convictos da necessidade do acto, mas somewhere along the way surgem medos e desesperos contrários. Separados na fronteira por constrangimentos de situação, mentalmente seguem também caminhos diferentes. O realizador Hany Abu-Assad tenta, a partir daí, explorar as duas perspectivas: a diplomática e a bélica. Só que a coisa nunca cola. Nunca o suicída parece verdadeiramente desesperado, nunca a amiga que esteve no estrangeiro parece verdadeiramente convencida da possibilidade de paz pelo diálogo. O filme, em si, nunca rebenta: mantém-se num limbo impossível de gerir, nunca espanta nem enfada, nunca se suicida ou opta pelo diálogo. O cinema "tem-te não caias" nunca fica bem a ninguém, muito menos em território difícil.
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