sabes bem que o judaísmo é uma história. e que apenas o suicídio é uma saída limpa para o real, porque mais real. no princípio as muralhas baixas do aqueduto aqueciam as madrugadas, quando o erotismo se confinava ao cheiro do tabaco entre os dedos, e o quotidiano limitava-se a avançar. agora tudo se reduz como açúcar. agora todo o comum corpo de militares desaparecidos nas feridas cria família nas esquinas, enquanto as putas seguram as pálpebras em frases da Judeia. sabes que a morte é uma sobremesa. e que te limitas a reconhecer o presente enquanto dadaísmo de um tempo passado, onde as garças pintavam o peito como abutres das faias, e o odor das azedas te aparecia como um vómito dos doentes encarcerados. existiam furtos. existiam aproximações cromáticas ao reino. existia transpiração sólida dos humores, enquanto alguns gatos se batiam pela espinha. sabes bem que tudo se manteve na linha grossa da lembrança.
dói-te a distância no peso do peito, ou começas a arrepiar-te, pelos genitais científicos, e a qualificação das coisas ganha olhos que nunca pensaste possíveis. regressa ao ínfimo da tua infância, onde devias ter passado à literatura enquanto personagem. regressa.
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