“Tinha eu vinte anos e tinha passado dois anos seguidos – pela primeira e última vez na minha vida - sem ver ou ouvir pedaço de Portugal. A viagem de comboio desde Manchester tinha durado 48 horas. Em Vilar Formoso, um revisor de bom coração tinha tido pena de mim e da minha figura e levou-me para um compartimento vazio de 1ª Classe onde eu finalmente adormeci, depois de ver, pela janela, no primeiro quilómetro do meu país, uma lua cheia, gigantesca e redonda e brilhante que eu juraria ter surgido só ali.
Cheguei de madrugada à estação de Santa Apolónia (tão perto do Convento da Madredeus onde viria a assistir, mais de uma década depois, aos primeiros ensaios dos Madredeus) e o que me fez chorar tão inesperada e vergonhosamente não foram os abraços nem as lágrimas das famílias que se viam reunidas ao longo daquela gare: foi o barulho – o barulho que levei tempo a perceber ser a música da minha língua, das vozes da minha cidade.
Seis meses antes, durante uma semana inteira, tinha sofrido uma crise definidora. De repente, em plena universidade e Inglaterra - e apesar de partilhar uma casa com mais quatro ingleses - quase não conseguia falar inglês, apesar de ser esta a minha língua materna e primeira.
Não sei porquê, alguma força misteriosa me levou a procurar o modesto andar onde se situava o Departamento Português: um único corredor com cartazes turísticos da Nazaré, de Viana do Castelo, de Óbidos. Aproximei-me de uma porta entreaberta de onde vinham sinais de vida e, apesar de ser um muito prestigiado departamento, o que ouvi, escondido junto à parede, parecia mais próprio de um centro de línguas. Ouvi dizer, muito devagar, com uma pronúncia muito inglesa: “Hoje vai chover e portanto vou levar o meu guarda-chuva.”
Desatei a chorar, sem domínio nem fim. Era como se pudessem ficar com Sá de Miranda, Camões, Cesário Verde, António Nobre, Pessoa, todos os fados de Amália: nenhumas palavras me tinham tocado tanto. É que eu julgava, até àquela altura, ser um cidadão do mundo, livre de sentimentalismos ou preconceitos nacionais, indiferente às cercanias e manias locais e inteiramente dado à cultura universal, que a nenhum lugar pertencia, por pertencer a todos os que havia.
Ou, posto em termos mais tristes, ainda não sabia que eu era português. Mas, graças a Deus, fodi-me. Era.
A partir daí, foi como se tivesse encontrado – e que se lixassem as limitações acompanhantes – a família que me faltava para além da outra, mais pequena e mais feliz, que eu já tinha. Nesse momento decidi que havia de ser a saudade o tema da minha tese de doutoramento e da minha vida (conclusão pragmática que revelava e aproveitava a minha costela inglesa e seria porventura impossível ocorrer-me naquele mesmo momento se eu fosse um “verdadeiro” português) – e assim foi e fiz.
Recuei e fui depositar a mala na estação para poder passear um bocadinho. Fiz caminho para o rio – logo ali – e a primeira coisa que vi foi um fragateiro, numa falua do Tejo a fazer as abluções da manhã. Estava a beber uma caneca de latão de café e (gostaria de inventar outra actividade mais lírica, mas foi realmente esta em que ele estava abstraído) a cortar as unhas dos pés, com uma toalha minúscula e grotescamente multicolorida à volta do pescoço. E lá vieram as lágrimas que, não sei como, tinham sobrado – talvez por ser o corpo humano composto por 80% de água…
Falo destas coisas, importantíssimas para mim mas de pouco interesse para os outros, porque, depois de 25 anos seguidinhos a viver em Portugal (tal como os primeiros 18), julguei já estar imunizado a reacções histéricas daquele tipo, apesar de ter sido bastante feliz.
Adoro a música dos Madredeus – não é segredo para ninguém – e houve muitas canções deles que me comoveram e continuam a comover seriamente. Mas não sou pessoa dada a choros (a não ser, comedidamente, com certas canções da Amália, de Billie Holliday ou Miles Davis). Odeio chorar; dá cabo de mim; desmancha-me; faz-me sentir indefeso e à nora; tolda-me; confunde-me durante muito tempo depois.
Com a pressa destas coisas, pus a tocar o “Faluas do Tejo”, a ver se despachava uma apreciação do disco que se apresentasse. Julgava-me já veterano dos Madredeus (para mais tendo a sorte de ser amigo do peito do Pedro Ayres), embora já antes me tivesse escaldado com essa presunção.
Mas, mal comecei a ouvir a “Rainha do Mar” (ainda tive tempo de pensar mecanicamente que ainda faltavam nove canções), senti as palavras cantadas pela Teresa esgaravatarem-me o cérebro e a alma, espalhando as pedras e fósseis que lá encontraram para abrir caminho, criar casa e lá aninharem-se mesmo no meio, na parte mais quente. E não é que desatei a chorar como naquele dia de 1977 na estação de Santa Apolónia? É.
Por julgar-me mais sábio do que naquele tempo tão moço, fiz um intervalo em que me deixei chorar no silêncio, por ser (inglês ou masculinamente) tão resguardado e cobarde nas emoções. Pelo sim, pelo não (com a desculpa de precisar de ajuda para perceber certas palavras), fui buscar a minha mulher para me acompanhar.
De nada serviu – é capaz de ter sido pior. Há umas muito poucas canções primorosas e imortais que evocam Lisboa (algumas dos Madredeus) mas, depois de ouvir “Rainha do Mar”, compreende-se que Lisboa é apenas um pano de fundo – o céu da gaivota de Alexandre O’Neill; a colcha amarela de David Mourão-Ferreira – para emoções humanas universais.
“Rainha do Mar” é inteiramente sobre Lisboa – o que Lisboa foi e não se sabe se (em que medida?) é ainda ou continuará a ser. Seria indecoroso da minha parte falar do que o poema de Pedro Ayres Magalhães tão enfaticamente consegue omitir, tal é a força elegíaca mas vivíssima (agora, aqui, connosco) que substitui o rol de memórias históricas e sentimentais que cada ouvinte fornecerá com os pormenores que mais lhe falam.
É essa a generosidade – e é esse o génio – da canção. Ninguém pode saber e basta que cada um julgue (por misericórdia) que sabe de si. É o carácter não-definidor e não-definitivo da canção – a extraordinária abertura que consegue levar a cidade inteira e Portugal inteiro com ela – que a torna tão comovente e eterna.
Por uma deliciosa e sem dúvida acintosa perversão no alinhamento – um trabalho inigualável nos discos dos Madredeus que é raro ver justamente apreciado, mesmo pelos mais fiéis e entendedores – o transtorno causado por “Rainha do Mar” é seguido por uma canção que, de todas quantas ouvi em língua portuguesa, considero ser a mais bonita e verdadeira cantiga de amor de todas: “Fado das Dúvidas”. Contém um verso que ficará: “E nunca sei como é que estás”. O segredo são as palavrinhas “é que”. Reproduzem, como faziam Irving Berlin ou Ira Gershwin, a nossa maneira particular de falarmos e de nos preocuparmos. É isto o que as pessoas dizem: não “Como estás?”, como é vulgar nas canções, mas “Como é que estás?”
Mesmo esquecendo a língua, canções enormes como “All The Things You Are” de Jerome Kern e Oscar Hammerstein II, ou “My Funny Valentine” de Richard Rodgers e Lorenz Hart, ou “I Get Along Without You Very Well” de Hoagy Carmichael e Jane Brown Thompson, não têm, mesmo assim, a mesma sincera ambiguidade; a mesma quebrante incerteza. Quando é do amor real entre pessoas de carne e osso que se trata, a única coisa certinha a que nunca se chega é a uma conclusão.
E lá redesatei a chorar, agora acompanhado pelas lágrimas da minha mulher – embora, desta vez, fosse um sofrimento suavizado – graças a Deus - pelo pasmo diante tal beleza musical. À primeira oportunidade, ela levou-me o CD para o escritório dela, onde ouviu a canção vinte ou trinta vezes seguidas, como é hábito feminino quando não aguentam a comoção, a ver se passa com a repetição e interiorização.
Em casas de Fado; em festas do “Avante”; em cozinhas e salas de concerto, o “Fado das Dúvidas” será cantado por longos anos por quem tenha o jeito ou a vontade de cantar. Tal como a “Maria Lisboa” (?título correcto? ) de David Mourão-Ferreira e Alain Oulman cantada por Amália, o facto de Teresa Salgueiro cantá-lo milagrosamente não inibirá ninguém.
Não se pode falar em melhores interpretações numa cantora tão abençoada mas, mesmo descendo (ou subindo) a considerações técnicas de natureza puramente vocal, se alguma canção mostra tudo o que Teresa Salgueiro consegue fazer neste momento (de “timing”, ritmo, enfatização, timbre, amplitude), é este “Fado das Dúvidas”. Por agora, pelo menos…
A ambiguidade da canção – tão parecida com a verdade sentida – é reforçada por uma melodia que não é triste nem feliz. Antes as duas coisas, com um arranjo genial (aparentemente simples) que faz sobressair – portuguesmente no sentido pleno e universalista de António Vieira – evocações do Tango mais sublime.
Nunca a saudade, a esperança e o desejo - e aquela tão nossa resignação arrependida que acha, no próprio arrependimento, a maneira de talvez alcançar a redenção amorosa de que precisa - foram tão habilmente casados. Que pena Teixeira de Pascoaes não estar vivo para poder ouvir materializado o sonho ambicioso que tinha para a sensibilidade portuguesa!
“Faluas do Tejo” é um disco felicíssimo. A outra maneira, mais empírica, de dizer “ambíguo” e “aberto” é dizer “completo”. Está aqui o Brasil – finalmente fruiu, por exemplo, a absorção reversa, agradecida e reverente da Bossa Nova, sem prejuízo para os tecidos internos, por muito colonial ou imperialmente tingidos que tenham sido.
É como se os Madredeus tivessem feito, como portugueses de Portugal, aquilo que os brasileiros, cabo-verdianos, angolanos e os outros povos com que profundamente nos cruzámos, fizeram espontaneamente, sem complexos, por estarem seguros das culturas que tinham e, sobretudo, por estarem inteligentemente interessados em produzir boa música, viesse de onde viessem as influências.
Já vi que, por não me poupar, já vai longa de mais a encomenda que me fizeram. Mas outra apreciação não seria nem justa nem possível. E assim só vou chegando à terceira canção – “Adoro Lisboa” – que, sendo muito lisboeta, tem muito de Bossa Nova, da autêntica, com cheirinhos e temperos andaluzes muito clássicos e impecavelmente tocados.
“Adoro Lisboa” é outra grande canção, desde a coragem de revalorizar o depreciado verbo “adorar” (tão nobre!) à generosa abébia que oferece àqueles distraídos que poderão ver “adoro” como uma expressão queque, pondo-os logo de sentido com as palavras portuguesíssimas (ou latiníssimas) “Quero-lhe bem”.
Trata-se de uma canção-lista, na tradição de “You’re The Top” de Cole Porter ou “Foi Deus” de Alberto Janes mas, ao contrário daquelas, não é rebuscada nem pretende impressionar com truques retóricos. Pedro Ayres Magalhães sempre teve um enorme talento musical e lírico mas este é o disco em que ele ficou em paz e à vontade.
Arrisco-me a dizer que seria impossível escrever estas letras sem ter, pelo menos, quarenta anos de vida intensa. Permitiu-se assim a poesia mais difícil, que é a corajosa e simples, já sem qualquer necessidade de afirmação. Pode escrever um verso perfeito como “vinho e sardinhas no Verão à beira do rio”, que é verdade eterna e não podia ser dito com tão poucas letras por alma menor. Ou: “Adoro Lisboa e sei que há muita gente que adora também”. (E sabes bem que não é mentira, rapaz!)
Quando somos mais novos, fazemos questão de sermos os únicos que sentimos uma coisa: “É meu! É meu! É meu!” E esta atitude também produz maravilhas. Mas o escritor que, na expressão etérea de Pedro Homem de Melo, “sobe ao povo”, é capaz de escrever o que sentem os outros. E é por isso que “Rainha do Mar” e o “Fado das Dúvidas” me fizeram chorar tanto: éramos tantos de nós a cantar que mais um não faria diferença e, com um pouco de sorte, passaria sem comentário.
Vai já tão extenso o elogio que me vejo obrigado a chamar a vossa atenção (sim, como se fosse preciso…) para apenas duas outras canções que, no contexto da obra dos Madredeus, assinalam novas partidas e futuros ancoradouros, sacrificando, para isso, por exemplo, o arroubamento lírico de o “Cais Distante” ou o enlevo musical, absolutamente luso-brasileiro de “O Canto da Saudade”. É uma canção que uma (ou muitas) das grandes cantoras brasileiras tornará dela de uma assentada, não tanto apesar, como por causa da maravilhosa interpretação original da Teresa).
A primeira dessas duas largadas é “Faluas do Tejo”, que dá o título à colecção. Tal como tenho feito até agora, abstenho-me de minimizar a cantiga através da evocação de dados concretos da memória portuguesa – embora suspeite que tenha sido a palavra “falua” que preparou a minha crise de choro, ao fazer com que me invadisse a memória, perdida há quase trinta anos, daquela madrugada em Santa Apolónia e do marinheiro que, numa fragata bem vivinha e ondulante - embora enquadrada em terra por um cemitério de carcaças de barcas antigas que já tinham dado o que tinham para dar, já meio-afundadas no areal malcheiroso e quase preto – vi entregar-se à tarefa, em nada particularmente alfacinha ou impossível de encontrar noutro país, de arranjar, com maneirinho alicate, as unhas dos pés.
Bem sei que uma falua – a palavra chegou-nos dos nossos mouros – não é bem uma fragata, mas pouco interessa, porque até podia ser um cacilheiro ou um moliceiro ou um barco rabelo. A partir de agora, com a música dos Madredeus, não é a precisão que importa: é o precisar. Atingiram a universalidade. Em Istambul, uma canção como “Faluas do Tejo” navegará, sem esforço, sobre o Bósforo.
As canções dos Madredeus já não dizem (se é que alguma vez disseram): “Esta é a minha pátria – Portugal – e esta é a minha cidade – Lisboa.” Ou então dizem mais – mas tanto, tanto que imagino qualquer outro cidadão, de qualquer outro país, a sentir e a dizer “Até aceito que sejam à partida, mas desde já vos aviso que não conheço nem Portugal nem Lisboa e que, para mim, eu oiço é. E a minha pátria e é a terra onde nasci e a rapariga ou o rapaz que amei e a lua que vejo e as pedras que conheço e o céu que me guarda e leva a casa, quando me perco”
“Faluas vadias (…) em tardes perdidas, que eu nunca esqueci …” Não é preciso ser-se Einstein para se imaginar, com a mesma força, juncos do Mar de Pérolas da China. Ou que as “velas ao sol” tragam a qualquer alma sensível, em qualquer ponto de planeta onde haja água, através do encantamento desta música e desta voz, os mesmos “quadros de infância” e a saudade doce mas falsamente esperançada que voltem ao lugar onde, em pequenino, se viram e gravaram.
“Lá de Fora” poderá ser a única canção resolutamente portuguesa e liricamente intransmissível – mas duvido. Não o será pela letra: antes será pelo toada gingona e quase bairrista deste belíssimo fado corrido que suspeito só poder ser plenamente compreendida, em toda a tristeza e todo alegre, irresponsável abandono que mostra tão descaradamente, por quem seja de Lisboa. Embora os restantes 99%, mesmo para os mais obtusos forasteiros, esteja disponível.
Tal como todas as outras canções, é universal. Mas, o picadinho das guitarras e o ritmo insolente poderão requerer algumas noites perdidas em Alfama e, apesar do brilho cintilante da letra, a Teresa (pela primeira vez que tenho presente) parece entregar-se completamente à Lisboa que é dela de todas as maneiras que Lisboa pode ser de alguém, esquecendo (magnificamente!) o resto do mundo.
Já mãe e mulher, Teresa Salgueiro, a par do incrível aperfeiçoamento vocal (fruto de muito trabalho, bem sei, mas à mesma cortador da respiração), não deixou de ser o rouxinol mais estonteantemente bonito do conto de Andresen mas tem acrescentado camadas de cotovia, de céu aberto e, neste caso, da lua de Alfama, que parece sempre (não me perguntem como) aluada por ela própria e, em vez de envergonhada, orgulhosa e arisca.
É uma grande fadista a Teresa (coisa rara nas grandes cantoras, partilhada apenas com Amália). E é uma grande fadista sem mais qualificativos e, se quase sempre escolhe envolver esse dom nos muitos outros que tem, aqui, em “Lá De Fora” fez o favor (a nós lisboetas) de se esquecer dos demais. É caso para agradecer, porque nunca mais morre, mesmo que nunca mais se repita.
Digo isto embora, do ponto de vista literário e técnico, não houvesse, de facto, outra maneira perfeita de corporizar uma canção como esta, com versos impagáveis como “o espírito alegre de certo vinho [de] que eu gosto” e não obstante o já vasto espectro interpretativo (e mesmo, em termos dramáticos e políticos, representativo) da arte vocal dela autorizar as maiores licenças, podendo ter simplesmente ocorrido que achou a forma mais impressionante e eficaz de transmitir toda a força – e mais alguma – da canção.
Só resta dizer que “Faluas do Tejo” é a obra dos Madredeus que, quanto a mim pelo menos, não só tem os mais sublimes arranjos (comedidos, rigorosos, utilíssimos, com a simplicidade difícil dos mestres) como é, de longe, o mais bem tocado. É um tratado de guitarras; um prazer que nos deixa estarrecidos, tal é a mestria técnica e criativa; a aparente facilidade de um contentamento tão esbanjador e perene que cada arte se desprende mal se executa, voando para se oferecer pura e inteira e nova a quem a ouve.
Nunca ouvi, num contexto de música popular, guitarras tão bem tocadas (ou bem gravadas) - salvo talvez na introdução de “Something Stupid” de Frank e Nancy Sinatra; num ou noutro disco de Paco de Lucia ou nos melhores momentos de Roddy Frame/Aztec Camera. Nem tão-pouco ideias tão originais - como, por exemplo, o proveito fantástico do que parece ser um orgão Hammond, subtil mas vigorosamente celebrado; reduzido a uma essência não tanto enfática como reticente, para maior efeito poder surtir.
Este tal órgão Hammond é sempre apresentado com uma distância à partida proibitiva mas, como em todas as aplicações inspiradas, ficamos convencidos que todos os órgãos Hammond, em todos os discos passados e futuros – seja qual for o chamado “tipo” de música” - deveriam ser obrigatoriamente situados da mesma maneira.
Sendo-me permitido misturar duas línguas os Madredeus conseguiram, tão cedo numa carreira particularmente trabalhosa, passar do “Ora ouçam lá” ou “Olhem para mim” para a universalidade do “Eu bem vos ouço” ou do “Here’s looking at you” de Bogart ou de Sinatra.
“Faluas do Tejo” é um abrir de olhos; uma revelação interior do que nos rodeia e nos falta; um milagre que pertence, milagrosamente, tanto a quem o ofereceu como a quem o presencia. É a música como partilha mágica, que não é menos deles por se tornar tão profundamente de cada um que a ouve e, ao mesmo tempo, de todos nós. Por muito que mudemos, a música dos Madredeus, enquanto dormimos, já mudou – para que caibamos quando acordamos – antes de nós.
“Faluas do Tejo” é a música de um mundo onde já vivemos e havemos de viver durante muito tempo."
Miguel Esteves Cardoso, sobre "Faluas do Tejo", o novo álbum dos Madredeus, a lançar no início de 2005