A Ilha da Boa Vida (****)

A Zero em Comportamento é conhecida sobretudo pela organização do IndieLisboa, mas faz, felizmente, mais do que isso. Exemplo é o ciclo, agora terminado, Viagens no Oriente. A mostra teve lugar no Museu do Oriente nas últimas semanas, e apresentou filmes precisamente de ou sobre os países a oriente. Ontem passou o original A Ilha da Boa Vida, de Mercês Gomes, curta-metragem de 24 minutos que havia feito parte da programação do Indie em 2007. Mais do que um documentário, clássico, o filme da portuguesa é a captação de Mumbai (Bombaim), na Índia, durante 24 horas. E o que o torna digno de nota é o dispositivo criado: uma constante aceleração de imagem ou, por outro lado, corte de frames, interrompendo a linha visível da imagem e mostrando sim uma colagem de imagens, próximas, que simulam o movimento mas não o apresentam completo. O resultado é muito bom, e também porque o olhar de Mercês é feliz, à procura de faces, de cores, da vivência do quotidiano da cidade. Se para um ocidental a Índia pode ser quase sempre um bom objecto de observação, não só pela sua diferença mas porque esta se afirma, muitas vezes, na miséria do ser humano, a realizadora foi à procura da felicidade das imagens e formatou-as depois num objecto singular, que caso contrário cairia facilmente no campo do banal. Assim, A Ilha da Boa Vida é literalmente um filme construído, que não se resume à imagem filmada mas a manipula para fornecer uma visão necessariamente diferente de uma realidade que já sabemos, à partida, existir. O Animatógrafo aplaude.

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