Ora, por insolvência mental, a semana do docLisboa foi uma enorme frustração, na medida em que "yours trully" não viu metade dos filmes para os quais tinha bilhete. Não vi "Impending Doom" de Edgar Pêra, nem a curta de Vertov, nem "Pintura Habitada" sobre Helena Almeida, nem "Arcana", nem... Enfim. E agora a pachorra para escrever sobre o que vi foi-se. Vi "The Emperor's Naked Army Marches On", de Kazuo Hara, documentário japonês com tanto de importante e interessante como de secante e datado (sim, é possível a simultaneidade). Vi "The Seeds", curta-metragem de Wojciech Kasperski, drama sobre uma família rural da Polónia profunda assombrada pelo suicídio de uma filha, com imagens brilhantes e humanidade dentro. Vi "Elogio ao 1/2", de Pedro Sena Nunes, sobre o bairro de pescadores da Meia Praia, no Algarve, que se perde na primeira metade à procura da ideia dos "índios da meia praia" para se reencontrar na segunda metade com a faina, uma ideia de mar e de comunidade, num filme à beira do desperdício que é resgatado a tempo e horas. Vi "Things", de Martha Hrubá, sobre a mania de tudo colecionar ou tudo deitar fora, pela voz de duas simpáticas velhotas checas, nos antípodas uma da outra, filme com tanto de delicioso como de construtivo. Vi "As the Sun begins to set", de Julie Moggan, documento leve sobre os passageiros do paquete Queen Elizabeth II, casais de idade vetusta que se ocupam a si mesmos à sombra da brisa marítima e que recorrem a memórias frente à camera para combater a solidão dos dias em casa. Vi "British Sounds" de Jean-Luc Godard, e "Humain, trop Humain", de Louis Malle, objectos experimentalistas de finais dos anos sessenta sobre o mundo do trabalho em fábrica. Vi "Un Pont sur La Drina", de Xavier Lukomski, curta que acabou premiada e que se baseia em imagens fixas de uma paisagem edílica com sons de um tribunal marcial sobre a Bósnia como pano de fundo, num contraste com tanto de fabuloso como de arrepiante. Vi "Là-Bas", da repetente Chantal Akerman, documento pessoal e transmissível sobre a possibilidade/impossibilidade de viver/estar em Israel, onde a realizadora vai espreitando pelas janelas fechadas de um apartamento em Tel-Aviv e reaviva as memórias de um judaísmo tímido e de uma depressão crescente, consciente e viva em cada respiração. No fim de contas, ainda se viu alguma coisa, mas muito ficou por ver, por excesso de trabalho, por dias mentalmente ocupados, por cansaço, por tudo menos disponibilidade. Melhores dias virão.
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