Eleições: França

Por defeito de fabrico, sou muito mais anglófono que francófono. C'est dire que não segui a campanha francesa de perto, as reportagens de perfil dos candidatos passei à frente, as reacções à primeira volta ignorei conscientemente. A TV5Monde mostra neste momento o novo presidente francês: Nicholas Sarkozy. Numa votação histórica (fala-se em mais de 80 por cento de afluência às urnas), o líder de centro-direita bate a socialista Ségolène Royal por seis por cento. Acaba a era Chirac, e para um anglófono que visão traz este resultado da "velha França"? Parece claro que os franceses querem um presidente que lhes traga de novo o papel central na Europa que tiveram em décadas anteriores. Internamente, o discurso claramente securitário da direita parece ter penetrado no centro do espectro político, que premeia precisamente o homem no centro das decisões à volta dos tumultos de há dois anos. O PS de Royal falha uma vez mais o regresso e mergulha a esquerda francesa num deserto que parece não ter fim, mesmo quando liderado por uma mulher carismática e afável como parece ser Ségolène. O que quererá isto dizer para os franceses? Sinceramente não sei. Será de esperar uma nova política de imigração, que poderá trazer a comum falsa sensação de segurança. E ainda assim, ao que parece, existe a possibilidade de Sarkozy se ver rodeado de um governo de esquerda moderada, o que é uma surpresa. E depois há o historial de "nãos" do povo francês: não a Jospin, não a Le Pen depois, não ao tratado europeu, não, no fundo, aos responsáveis políticos que dominaram a última década e à sua forma de conduzir os projectos. E porém, o voto "sim" desta feita vai para um dos actores políticos que vem de trás, e não para sangue novo. Novamente, ao que parece, está a França na encruzilhada que nos assaltou nas últimas legislativas: é preciso reformar as instituições, recuperar o bom nome da política e reabilitar a França consigo mesma e com os franceses. Veremos, muito em breve, que direcção terá o governo que vai trabalhar com Sarkozy (as legislativas são já em Junho) e, em consequência, de que lado sopra a brisa em Paris.

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