Eu acho piada a homens pernetas ou coxos. São cómicos. Há algo de personagem de banda-desenhada na sua forma de andar, como se não pertencessem à mesma dimensão que nós, homens-erectus. Um homem perneta é um ser estranhamente interessante: bamboleia-se, não anda; move-se, não caminha. Quando vejo um homem perneta dá-me vontade de iniciar um diálogo do qual as seguintes frases necessariamente fariam parte:
"E que outros super-poderes tem?"
"Consegue manter a compostura num casamento e não se rir de si próprio?"
"Pois, realmente isso é óptimo com as mulheres"
Um coxo, em contrapartida, não é tão cómico como um perneta. Ainda assim, a semelhança com um sobe e desce deixa-lhe alguma margem de manobra em stand-up comedy. Um coxo é um ser que não conseguiu ser perneta mas teve inveja e acabou por ficar num estado intermédio. Um coxo não corre, salta sobre si mesmo. Um coxo está permanentemente a gozar connosco: ora nos vê de cima ora de baixo. Num filme de Manuel de Oliveira, o coxo é o sal dos trinta minutos leves, na segunda parte. Entre bocejos, olhamos para o coxo com alegria e esperamos que Oliveira o torne na sua principal personagem. Um coxo é uma lufada de ar fresco: movimenta o espaço à sua volta, criando um efeito de remoínho vertical que renova o oxigénio.
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