À data da morte de Ian Curtis, eu era apenas um recém-nascido. E por isso os Joy Division só me chegaram muitos anos depois, diferidos, quase como mito de uma personagem perdida algures no cinzento de Manchester. Porém, isso de forma alguma diminuiu o interesse no carácter perturbado da voz de "Love will tear us apart". Pelo contrário. E assim, Control surge como documento obrigatório. Surgiria, aliás, de qualquer forma, uma vez que se trata da estreia em motion picture do fotógrafo Anton Corbijn. Control tem, então, duas dimensões marcantes que convivem para um resultado final. Do ponto de vista do argumento, em momento algum se estabelecem equívocos: o filme é um biopic de Ian Curtis e de forma alguma deve ser confundido com uma revisitação dos Joy Division enquanto banda e projecto. E daí decorrem duas horas inteiramente focalizadas em Curtis, com a banda a surgir apenas na medida da sua ligação (íntima) com o vocalista. Para além disso, Ian é sempre apresentado como ser humano complexo e impregnado de problemas (desde uma epilepsia reveladora a uma depressão galopante), e não, como noutros filmes, como alienado. São estados diferentes, e alicerçar o filme derradeiro na primeira é uma manobra de pura inteligência, conferindo quer ao trabalho quer à personagem uma profundidade necessária. Quanto à estética, Corbijn parte para um preto-e-branco pastoso e uma fotografia imaculada, mas que nunca se socorre de técnicas fotográficas estáticas, como muitas vezes acontece com fotógrafos que "dão o salto". A imagem, de Curtis como dos Joy Division como de Manchester, é apurada mas não perdida de si mesma. O filme, enquanto documento de imagem em movimento, agrega-se em volta de uma estética própria mas que, felizmente, não quer ser mais do que é. E aqui Corbijn ganha por completo a aposta e é aprovado com distinção. O resultado de tudo isto é um filme sólido, sedutor na imagem, e coerente no conteúdo. Longe de uma obra-prima, e também porque não almeja sê-lo, é um dos melhores do ano.
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