Objectos Felizes III

Thelonious Monk dispensa apresentações. Muitas vezes visto como fundador do bebop, para além do reconhecimento como um dos grandes nomes da história do jazz, e sobretudo do piano e da improvisação, o americano deixou a sua marca no século XX e seguintes. Faleceu em 1982. Agora, agora que o vinil é coisa de velhos, de discotecas ou de melómanos, vale a pena olhar para a edição do concerto que o quarteto de Monk deu no Carnegie Hall com outro mito, John Coltrane. A 29 de Novembro de 1957, a sala nova-iorquina tinha um cartaz à porta que mencionava como alinhamento Billie Holiday, Dizzy Gillespie, Ray Charles, Chet Baker e Monk com Coltrane. Era o "thanksgiving jazz", diziam eles. A presente edição tem apenas a parte de Monk e Coltrane (impossível ter tudo num vinil claro), mas já por aí compensa. Do alinhamento, onde o lado B podia ser o A e vice-versa, constam as grandes "Epistrophy" ou "Blue Monk". A edição é primorosa no trabalho de contexto, com textos sobre não só os músicos mas também a Nova Iorque de então ou da ligação entre Monk e Coltrane. Sendo uma reedição, convém sublinhar que o album original entrou, em 2007, para o Grammy Hall of Fame, e que esta edição, em vinil, é uma reconstrução da gravação original, em termos de som. E já agora: que o concerto foi de beneficiência para o Morningside Community Center. Já não se faz música assim.

Vénia do Dia: Thelonious Monk

A Ilha da Boa Vida (****)

A Zero em Comportamento é conhecida sobretudo pela organização do IndieLisboa, mas faz, felizmente, mais do que isso. Exemplo é o ciclo, agora terminado, Viagens no Oriente. A mostra teve lugar no Museu do Oriente nas últimas semanas, e apresentou filmes precisamente de ou sobre os países a oriente. Ontem passou o original A Ilha da Boa Vida, de Mercês Gomes, curta-metragem de 24 minutos que havia feito parte da programação do Indie em 2007. Mais do que um documentário, clássico, o filme da portuguesa é a captação de Mumbai (Bombaim), na Índia, durante 24 horas. E o que o torna digno de nota é o dispositivo criado: uma constante aceleração de imagem ou, por outro lado, corte de frames, interrompendo a linha visível da imagem e mostrando sim uma colagem de imagens, próximas, que simulam o movimento mas não o apresentam completo. O resultado é muito bom, e também porque o olhar de Mercês é feliz, à procura de faces, de cores, da vivência do quotidiano da cidade. Se para um ocidental a Índia pode ser quase sempre um bom objecto de observação, não só pela sua diferença mas porque esta se afirma, muitas vezes, na miséria do ser humano, a realizadora foi à procura da felicidade das imagens e formatou-as depois num objecto singular, que caso contrário cairia facilmente no campo do banal. Assim, A Ilha da Boa Vida é literalmente um filme construído, que não se resume à imagem filmada mas a manipula para fornecer uma visão necessariamente diferente de uma realidade que já sabemos, à partida, existir. O Animatógrafo aplaude.

A minha palavra favorita da semana XXII



Bafuricar


Objectos Felizes II

O gajo é brilhante. Já o era nos Ornatos Violeta (que só no fim de carreira foram devidamente reconhecidos), já o é nos Pluto, nos Supernada, em Tenaz, e agora sozinho. Manel Cruz é talvez a melhor coisa que aconteceu à cena musical portuguesa nos últimos tempos. O novo projecto que, reza o mito, começou há muitos anos, tem o espantoso nome de Foge Foge Bandido, e é isso mesmo, um projecto. No caso, é um livro de 140 páginas e um duplo CD. O livro é profundamente ilustrado pelo Manel. Os CDs, de nome O Amor dá-me tesão e Não fui eu que estraguei, têm cerca de 40 faixas cada um. Faixas. Porque lá dentro há catalães aos berros nos anos 40, há electrónicas e acústicas, há fodidas e lixadas, há letras do outro mundo, há missas de uma igreja em brasileiro aos berros, com o Manel a beter o bedelho, há um casal com mau hálito e alguém que aprendeu a ser puta na TV, há histórias de amor, e uma vida de merda, franceses romanceados, alguém a bater à máquina, pedidos de liberdade para macacos. "Ninguém é quem queria ser/eu queria ser ninguém". O Manel pensou que isto era bom demais para aparecer aí nas esquinas dos hipermercados e vai daí a coisa só existe, e bem, via CDGO.COM, com a chancela da Turbina. A primeira edição voou, e parece que a partir de dia 30 há uma segunda. A complementar, o espantoso site do projecto, com tudo desenhado pelo Manel, músicas para audição, vídeos, o diabo a quatro, num tremendo exercício de criatividade e bom gosto. Está, claro está, em FogeFogeBandido.com. E para quem estiver ou passar no Porto, até ao fim do mês, estão expostos os desenhos originais que fazem parte do trabalho, mais concretamente na Gesto Cooperativa Cultural, na rua Cândido dos Reis, 64. A ver, comprar, ouvir, ouvir, ouvir. "Imaginem um abraço/o meu queixo pousado no teu ombro/e eu viajando no teu cheiro pelos/trilhos do silêncio/é o cenário possível de um homem/sozinho de cerveja na mão/sentado na varanda olhando a lua e a/comer pimentos padrão/comê-los contigo era perfeito como/olhar esta cidade à noite/olhá-la contigo era pensar noutras/formas de ver".

Em revista I: Zoetrope All-Story


Mantendo o tópico do post anterior, inaugura-se nova secção. Desta feita, com a Zoetrope All-Story, projecto criado e coordenado pelo mestre Francis Ford-Coppola, cujo número de Verão viu-se refugiado no tapete da entrada há alguns dias. É lixado não caber na caixa do correio e ficar à mãos de semear de um vizinho mais curioso porque o carteiro é xoné. Felizmente os meus vizinhos são do antigamente e vêm a TVI, e portanto cá está ela. Desta feita, o designer convidado é Mark Mothersbaugh e os textos de John Hughes, Sana Krasikov, Saena Lambert, Marissa Perry e Yasutaka Tsutsui. A peça é de uma enorme preocupação gráfica e vale mesmo pelo seu próprio papel, cores e cheiro, para além dos textos. E, imagine-se, não, não custa uma fortuna. A assinatura anual tem neste momento o valor de 25 euros, já com despesas de envio, para quatro números. Para uma das melhores coisas que se faz sobre literatura, cinema e artes gráficas não está mal.

Vénia do Dia: Radiohead

É perto, tão longe

Péssimo defeito: acumular revistas, jornais e afins materiais, para um dia, quem sabe, talvez, ler. Perdida a actualidade, a sabedoria da coisa está na visão "histórica", no saber como foi depois, mas assim se escrevia antes. Ilusões perdidas. E por vezes descobertas que compensam o papel arrumado em caixas e sacos. Exemplo: a Única de 6 de Junho passado. Independentemente das fofocas e styles que também aqui povoam páginas, dois muito bons exemplos de bom jornalismo. Sobretudo na sua vertente reportagem, vulgo "contar histórias". Primeiro, Luís Pedro Cabral fez o que também eu gostava de ter feito: visitou todas as cidades de nome "Lisbon" nos Estados Unidos. São doze. E mais do que procurar os pontos de contacto das pequenas Lisboas com sotaque com a grande áquem Atlântico, o jornalista procurou as cidades elas mesmas, mesmo tentando saber de onde vem o nome. Em quase todas, nada a ver com Portugal. Em todas, uma dimensão que não se afirma porque inexistente, e uma visível América arredada dos holofotes. Para cada uma um pequeno texto, ora cínico ora melancólico. Uma ou outra imagem a acompanhar. O resultado é uma viagem a um pretexto invulgar. E a ideia de que se pode repetir com Paris, ou Londres, ou Buenos Aires. A América é, feliz e infelizmente, mais do que Jay Leno e Barack Obama. Para um europeu, é um mar de possibilidades de viagem. Nome de código perfeito: Lisbon Story. Segundo, e segundo a capa: Carlos Rico foi à procura de João Balula Cid, pianista português de virtude feita, que trocou Lisboa pelo norte da Noruega, e o piano pela pesca do bacalhau. Em Lofoten ainda há pianos, no bar da vila ou em casas particulares para afinar, mas o quotidiano é feito do controlo da produção do peixe. João Cid passa mais tempo a pendurar cabeças de bacalhau ao sol do que a tocar nas teclas. E isto foi uma escolha. A reportagem é limpa, simples, sem pretensões panfletárias, e alimenta-se do que deve: das pessoas que tem dentro, das suas imagens e histórias. De novo, uma enorme vontade de mandar tudo às urtigas, e partir para outra. Há mais portugueses no projecto, e todos alimentam em três meses a motivação que tem que durar para o resto do ano, passado em Aveiro a penar à saída da lota. A peça chama-se Do piano para o bacalhau e terá dado origem também a uma reportagem no Jornal da Noite da SIC, que confesso não ter visto. Não querendo alimentar a fantasia miserabilista do "lá fora é que é bom", fica-me a cara do bacalhau a olhar para nós. De boca aberta, pasmado ao sol.

PS: para os interessados, posso fornecer cópias de ambas as reportagens em versão digitalizada. Vale a pena.

UPDATE: Dei agora conta que a reportagem da SIC está disponível no You Tube. Assim, deixo aqui as duas partes abaixo, para quem quiser ver. Recomendo, de qualquer forma, a leitura do texto da Única.

Parte 1



Parte 2

Vénia do Dia: Emmylou Harris

A minha palavra favorita da semana XXI


Puta da idade

Notícias da Barra: Black Cab Sessions

Outro que salta directamente para a barra é o projecto Black Cab Sessions. A história é muito simples: cinco amigos, que gostam de música, convidam bandas que admiram para tocar uma música dentro de um taxi em Londres. Como ideia delirante, tinha tudo para acontecer e acontece mesmo. Pelo taxi já passaram Death Cab for Cutie, The National, Fleet Foxes ou Micah P. Hinson, entre muitos outros. E não, a coisa não parece ser oportunista. Como se pode ver pela reportagem aqui em baixo (e por outra da ABC que consta do site), a ideia é apenas e só meter os músicos a tocar uma música dentro do taxi. Não há dinheiro para ninguém a não ser para o taxista, que recebe pelo seu trabalho de circular em Londres. Um hobbie para cinco papuços com uma ideia genial. Pelo que se pode ver no site e no You Tube, há pérolas gravadas, enquanto quem vai na rua fica a olhar. Mais uma daquelas ideias que deixa o humilde autor deste tasco profundamente pequenino. A ver, sempre que possível, no Black Cab Sessions. One song. One take. One cab.

Vénia do Dia: Fleet Foxes

Notícias da Barra: The Bar


Com este novo template ainda não coloquei os links para blogs e sites, mas estará online muito em breve. E um dos que salta para a berlinda é o site internacional The Bar. Por partes: sim, eu gosto de bebidas. Não sou um grande consumidor, mas interesso-me pela coisa, pelos produtos, pelo labeling, pela composição, etc, etc. E sobretudo quando nós por cá temos acesso a um número extremamente reduzido de marcas e produtos, lá fora a coisa é bem diferente. Ora, The Bar é tudo o que um site deve ser: atractivo, interactivo, dinâmico, surpreendente, informativo. Em termos de design gráfico, tudo foi pensado ao pormenor e respira saúde. Totalmente em flash, existe uma enorme coerência, quer de imagens, quer de cores, menus, etc. Depois a quantidade de informação sobre bebidas, produtos, receitas é enorme. É possível regressar continuamente e nunca ter a sensação de já termos visto tudo. E depois a interacção é assegurada em vídeo. Isto mesmo, vídeo. Porque logo a abrir existe o Jack, o tipo do bar, que fala pelos cotovelos, explica as bebidas que quisermos ao mesmo tempo que inventa uma história mirabolante, e responde mesmo a perguntas que possamos colocar. E não, não são predefinidas. Claro que os temas são finitos, e quando o sistema não reconhece o assunto, o Jack avisa logo que não percebe. Mas quando reconhece dá logo um conjunto de info. Se perguntarmos como se faz um Mojito, ele mostra. Se quisermos saber a história de Johnny Walker, ele conta. Numa comum ligação de banda larga a fluidez do vídeo é impressionante, nem gagueja. Claro que o projecto está associado às marcas das diversas bebidas, mas é tudo feito no espírito positivo de aproveitar o que elas nos podem dar. O projecto é da gigante Diageo, que detém as marcas que lá estão claro. Um excelente exemplo do melhor que a Internet tem, comercialmente. Aqui, no The Bar.

Arte Photographica

O "Arte Photographica" é um blog associado ao jornal Público mas não é isso que o torna digno de nota. O projecto de Sérgio Gomes dedica-se, claro está, à fotografia e dentro da temática é um bálsamo. Sobretudo porque olha para a imagem fotográfica de forma construtiva e acessível, não se preocupando na exagerada teorização do campo. Veja-se o texto de hoje. Buñuel fotógrafo, uma dimensão praticamente desconhecida do realizador, sublinhada primeiro pelo El País, e agora pelo Arte Photographica. Apenas uma chamada de atenção, o resto cabe a cada um perseguir ou não. Antes, uma revista de fotografia holandesa. Antes, uma exposição. Pistas a seguir. Aqui.

Speed Racer (****)


É inevitável que os irmãos Wachowski fiquem na história do cinema conhecidos e reconhecidos por Matrix. É praticamente impossível ultrapassar o síndrome de Neo, sobretudo tendo em conta o primeiro filme da trilogia. Ainda assim, os Wachowski querem continuar em frente. E Speed Racer, que tínhamos apontado no início do ano como um dos projectos a seguir (ver aqui) é definitivamente um passo em frente. Para quem não sabe, antes de Matrix os irmãos tinham trabalhado, por exemplo, para a Marvel, onde escreveram Ectokid, banda desenhada criada por Clive Barker. E portanto, o fascínio pelo mundo dos comics é antigo, estava patente em, por exemplo, Animatrix, e é o grande mote para o projecto que tenta recuperar a cara dos irmãos depois de um quase desastroso V for Vendetta. O que é facto é que Speed Racer é, antes de mais, a recuperação de uma série de animação dos anos 60, que já de si era uma versão americanizada de Mach GoGoGo, este sim um conceito japonês de manga e anime. E aqui está o primeiro e grande mote para o projecto finalizado em 2008 pelos Wachowski: um trabalho herdeiro directo da estética nipónica clássica. E era precisamente por aqui que a coisa podia falhar redondamente e lançar os irmãos para o campo do "one time hit". Porque de efeitos especiais e criação de dimensões digitais já se sabe que são capazes. Ora, por aqui Speed Racer é um filme totalmente conseguido: é precisamente uma estética japonesa de anime que lhe confere o delírio visual total, no limite do pastiche, que prende o espectador da primeira à última imagem. E mais: toda a componente imagética segue o mesmo prisma de construção dos japoneses, nomeadamente nos pormenores de construcção gradual até um climax que não se pensava possível segundos antes. A imagem é, assim, a esteira fundamental do filme, e torna-se mesmo conteúdo, e não apenas formato do mesmo, obrigado quem vê a dilatar as púpilas e a perceber o filme pelo que o mesmo mostra. E portanto, o que é que os Wachowski tinham que fazer para sustentar a coisa? O que muito bem sabem: seguir os trâmites de construção de narrativa também eles herdeiros da tradição nipónica, isto é, uma trama larga de assuntos numa espinha de simples percepção, que sempre envolve maquinações globais de grandes grupos do lado do mal, face a emergentes actores do bem que são colocados à prova no limite da sua existência. Na prática, trata-se de um enorme jogo de interesses, hiperbolizados, que se joga por actores aparentemente menores mas cujas acções podem ter um impacto fatal. E que essas acções vêem-se, literalmente, na imagem total, na velocidade, na violência extrema, na saturação da cor e da emoção. Este colocar da imagem ao serviço de uma história, esticando a primeira ao limite e fazendo-a veículo de tudo o resto, é todo um mapa de percepção de um filme que, para todos os efeitos, marca o ano. Ainda assim, e também por tudo isto, Speed Racer não é uma obra-prima e dificilmente conseguirá largar o campo dos filmes fantasistas baseados em banda-desenhada, que com enorme dificuldade conseguem ser percebidos de forma mais profunda. Mas enquanto objecto de entretenimento, e sobretudo enquanto proposta de estética alternativa criada dentro de um cinema muitas vezes preocupado com as formas clássicas de criação, o filme dos Wachowski ganha a aposta e pode lançar o cinema de efeitos e de criação de mundos numa esfera diferente da conhecida até aqui.

Música de domingo XI



Kelley Polar, Chrysanthemum, in I Need You To Hold On While The Sky Is Falling, 2008

Vénia do Dia: Beck

Cara lavada

Estava na altura. O Animatógrafo cresceu, visualmente, à custa do trabalho em HTML do seu autor, e chegou a altura de passar para XML. Assim, decidi mudar a cara a isto. O outro template parecia já cansado, ainda que agradável. Este é mais limpo, e mais conforme com os dias de hoje. Além disso, consegue-se agora mostrar o número de posts por label, a pesquisa dispensa parcerias externas, o arquivo voltou, e existem possibilidades de adicionar mais material. Claro que os primeiros tempos são de adaptação de formato, e muita coisa que estava para trás tem que se adaptar à nova realidade. Agradecem-se comentários, sugestões e críticas, porque o outro pode sempre voltar, se a turba o exigir. Portanto, comentem, sugiram ou critiquem aqui, ou votem na poll aqui ao lado. A gerência agradece penhoradamente.

Objectos Felizes I

O Animatógrafo inicia agora uma nova série sobre objectos felizes, peças de inigualável interesse interior, cuja posse faria a felicidade deste estimado autor. Cada objecto é acompanhado por uma breve explicação. Hoje:

A Photographer's Life: 1990-2005 é um livro, editado em 2006, sobre a fotógrafa Annie Leibovitz. Neste caso, contrariamente ao normal, não com imagens tiradas pela norte-americana enquanto parte do seu trabalho, mas antes sobre a sua família e, mais especificamente, sobre Susan Sontag. A ligação entre as duas mulheres foi muito próxima, mesmo nos momentos mais difíceis da pensadora, a braços com uma doença terminal. A Photographer's Life é mesmo isso: um olhar sobre a vida da fotógrafa, e não o seu olhar sobre a vida dos outros. Leibovitz ficou conhecida por imagens como a de John Lennon despido a beijar Yoko Ono horas antes de ser assassinado (que fez a capa da Rolling Stone), Demi Moore grávida e nua na capa da Vanity Fair, ou a raínha de Inglaterra no seu esplendor rural. A criadora é um nome incontornável da cultura de imagem das últimas décadas, e este objecto ilustra bem a sua dimensão enquanto produtora de algo permanente: uma atitude de busca contínua da ruptura.