Desperate Housewives

Ao que parece, a SIC vai estrear em Portugal a série que há meses anda a gerar a loucura nos EUA. Ok, também não é preciso muito para isso. Mas ainda assim, ficam umas notas prévias de quem já viu os 21 episódios que já passaram nos states e que começam a ser transmitidos em Portugal dia 22. Se pensarmos nisso, praticamente todas as séries que fizeram história na televisão norte-americana (e, logo, na nossa) eram sitcoms ou drama. São assim denominadas, aliás, as duas categorias a concurso nos Globos de Ouro, se a memória não me falha. As séries que a SIC Comédia agora anda a repetir são as sitcoms: “Cheers”, “Mad about You”, “Seinfled”, etc, etc, etc. As dramáticas oscilaram entre as iniciais da linha “Lassie” e “Casa na Pradaria” e depois a corrente Sci-Fi. Mais recentemente, nos últimos 10, 15 anos, a indústria compreendeu que eram formatos demasiado estanques e que tinha que arriscar em originalidade: ou no argumento (“Seven Feet Under”) ou em termos formais (“24”). A ABC arriscou num sentido curioso: o da análise da vida moderna e das suas implicações no modo de vida tradicional. Como era demasiado perigoso meter internet em casas amish, decidiu criar “Desperate Housewives”. Não avançando muito em termos objectivos, já que existe estreia marcada entre nós, fica a ideia de que se trata da história de uma pequena comunidade: um bairro. Daqueles tipicamente americanos, estilo Florida, mas sem velhos nem a humidade nem as camisas com abacates: casas iguais ou similares, relvados impecáveis, garagem, sebes pintadas de branco, crianças a brincar na rua, vizinhos que se conhecem. Mais longe: vizinhas que se conhecem, uma vez que são não-trabalhadoras. E aqui acaba a ideia de dona de casa tradicional. São mulheres altamente formadas, extraordinariamente atraentes, e com graves problemas mentais. O formato é um misto de comédia (e não sitcom) com drama. Basicamente, aquela gente não regula bem. Ou são obsessivo-compulsivos, ou sado-masoquistas, ou materialistas extremos, ou hiper-activos, ou infiltrados, ou homicidas.
Nos EUA, até a Primeira-Dama já referiu publicamente que vê. As actrizes, ilustres desconhecidas antes, são perseguidas na rua. E, curioso, os homens norte-americanos, segundo estatísticas levadas a cabo, dizem que não veem, enquanto as mulheres não perdem um episódio (não cheguei a nenhuma conclusão quanto a isto), o que é obviamente mentira. Especulando um pouco, acredito que o sucesso do formato está na forte identificação que o comum norte-americano deve sentir perante os personagens. Ou seja, aquilo podia acontecer no seu bairro. Ou pior, aquilo acontece no seu bairro! A análise do confronto entre o típico bairro norte-americano de relvados cortados e sebes pintadas e as pessoas que lá moram e as suas neuroses dá, para já, à ABC o pódio na temporada televisiva.

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