Ruas longas e o sol aquece. Um homem passa de calções, com um cadeeiro na mão, art-deco. Numa pequena praça, encostada a uma igreja esquecida por uma manhã, belgas anónimos estendem a manta e encostam o que ocupava o canto da garagem. Telefones, bonecas desmembradas de pestanas compridas, blusas roxas penduradas em cabides. Máquinas fotográficas de fole. Terrinas de porcelana. Ao canto, uma loja pendura tapetes orientais nas paredes, enquanto um copo de vinho regional da Estremadura aguarda a boca da proprietária em cima do balcão. Ao virar da esquina, a pequena praça multiplica-se pela sua raíz quadrada. Uma banda resiste tocando para fãs de cadeira de campismo à frente do palco. Sandálias de presilha gasta namoram um sofá esfolado. Postais sem luz escondidos junto a uma cafeteira aposentada. Uma rapariga de tronco nu e cabelo loiro comprido insinua-se à máquina, que pesava de lente baixa ao pescoço. Outras duas, de idade proporcional em escada de altura, escolhem bonecos antigos espreitando entre prateleiras. Mais longe, um pai sorri nervosamente com a filha em pranto explícito, dentro de um carrocel. Na rua semi-deserta, poucos metros depois, uma criança sorri veloz enquanto o pai pedala e equilibra a dupla. Lojas fechadas, movimento de rua. Esplanadas em crescimento rápido. Barcos percorrem os canais para uma visão aquática do mercado do peixe, ilustrada em holandês e demais línguas. Cartazes nas janelas anunciam casas vagas para estudantes futuros.
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