E ao terceiro dia, uma primeira desilusão. Diz a sinopse de Day Night Day Night que “ uma rapariga de 19 anos prepara-se para se tornar bombista suicida em Times Square”. E sim, é verdade, Julia Loktev filma uma rapariga, crente em algo que nos é oculto, em preparação e acto de suicídio. Tudo de início é bem feito: a frieza dos programadores, de cara tapada e procedimentos rígidos, a semi-alienação da rapariga, convicta mas simultaneamente medrosa, humana. Tudo é preparado ao milímetro, mas sem gritos de viva deus, com a encenação que se adivinha no vídeo da praxe, com calma e normalidade, sem “terror pride”. Et voilá, ela vê-se em Times Square com uma mochila cheia de explosivos e um leitor de mp3 que na realidade é um passaporte para terras do Senhor. A coisa não corre bem, e tudo se desmorona, pelo que ela estava já morta antes de carregar no botão, por dentro, psicologicamente, nos gestos, na transpiração, na ausência de passado ou na sua obliteração. A partir daqui, quase tudo se perde. Loktev quis insistir no risco e torceu o pé, minuto atrás de minuto supérfulo, ao limite da caricatura. Grita-se para o ecrã “we get it!”, mas a realizadora insiste, e prolonga, e acaba por se perder no pós-morte desnecessário, anguloso erro de principiante. Pelo meio ficam micromovimentos, planos frios fora do livro de escola, um pensamento sobre as imagens que não se despreza. Mas tivesse parado a tempo e não se tinha suicidado. Dupla morte do artista.
0 comments:
Enviar um comentário