A passar na secção Director’s Cut, dedicada a filmes sobre o próprio cinema, The Pervert’s Guide to Cinema é um dos objectos mais interessantes do cartaz do Indie. Realizado pela britânica Sophie Fiennes, aprendiz de Greenaway, o documentário segue a relação entre cinema e psicanálise, ou como o primeiro pode ser visto à luz da segunda.O anfitrião é o delirante Slavoj Zizek, filósofo e psicanalista esloveno, que vai tecendo as complicadas teias do cinema visto pela lupa de Freud e amigos. A coisa é feita de forma divertida, com Zizek a incorporar-se nos cenários de alguns dos maiores filmes da história. É vê-lo no barco como “Os Pássaros”, de Hitchcock, a falar de como estes simbolizam uma mãe opressora. É olhá-lo aflito face aos comprimidos azul e vermelho em “Matrix”, enquanto reflecte sobre a ideia de um renascimento primitivo. O tom é sempre bem disposto, mas nunca se perde do verdadeiro objectivo: mostrar como o cinema é o meio por excelência de demonstração de teorias psicanalíticas, e como o faz, globalmente, sem consciência. O filme de Fiennes tem três partes, e é precisamente pela duração que peca: Zizek, mesmo com toda a boa vontade, acaba por vezes por tornar críptico, e exigir ao espectador um trabalho de desconstrucção do discurso invulgar. De outra forma, o Zizek filósofo mostra-se, a espaços, mais do que Zizek psicanalista, o que torna o “argumento” um pouco pesado. Ainda assim, The Pervert’s Guide to Cinema é de uma originalidade estrondosa, feito de forma criativa, e cria uma visão atípica do cinema enquanto meio.
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