Robert Zemeckis é um clássico do cinema dos últimos 20 anos. De Who framed Roger Rabbit? a Back to the Future, até Forrest Gump, o realizador norte-americano é um dos elementos chave dos melhores filmes de entretenimento das últimas duas décadas, independentemente de se gostar ou não de cada um. Para além disso, há muito que Zemeckis procura o cinema enquanto dispositivo evolutivo, que se adapta para além do presente. Senhor de uma visão pessoal, o realizador tem tentado surgir com inovações técnicas que nos permitam olhar para o cinema fora da caixa. E com Beowulf isso é levado ao extremo limite. Do ponto de vista argumentativo, Beowulf surge pela pena de Neil Gaiman, o que é, desde logo, garante de qualidade suprema. Recupera-se o domínio da lenda, numa realidade pós-Lord of the Rings, sem se mimetizar o projecto de Peter Jackson, mas antes retornando às raízes reais de uma civilização, num contexto contido. A lenda é simples, mas elaborada: num reino prévio à civilização romana, o rei Hrothgar e os seus súbditos, vencedores de todas as guerras, são continuamente amedrontados pelo monstro Grendel. Dos mares surge Beowulf, guerreiro supremo, que não só vence Grendel como se assume como centro da promessa e ligação que determinará toda a história. Mas bem mais que isso, Beowulf, na sua versão 3D, é toda uma nova proposta perceptiva. Quando, em plenos anos 80, o país parou por causa de uma transmissão 3D da RTP, estávamos a anos-luz do resultado final de Zemeckis hoje. Os óculos já não são em papel com uma lente de cada cor, e 3D não é apenas uma imagem desfocada. Beowulf em digital e 3D é efectivamente uma nova forma de olhar a imagem, dir-se-ia, um novo cinema. A profundidade e textura da imagem são fenomenais desde o primeiro segundo, e a percepção de um guião é profundamente alterada. Quando Grendel ataca em plano frontal, somos nós os atacados. Quando a mãe de Grendel emerge das águas, destaca-se de todo o plano de fundo, e parecemos estar mergulhados no mesmo líquido. O digital 3D de Beowulf é extraordinário e inaugura uma nova forma de olhar para o ecrã, que adquire espessura. E tudo se torna mais fácil com o motion capture, técnica de animação aplicada sobre imagem real. Zemeckis filma Anthony Hopkins e Angelina Jolie e depois aplica um filtro de imagem que os destaca da pele real e lhes confere um aspecto misto de filme e banda desenhada, sem uma determinante preponderância de nenhuma das dimensões. O resultado é uma estética fantástica que aproveita o trabalho humano dos actores e o transforma num universo estético próprio. E é aí que as 3D se alicerçam, como âncoras. Beowulf é um documento histórico (mesmo que os seus sucessores o venham a recusar), e a versão 3D é fundamental. Portugal tem 13 salas totalmente digitais (entre 21 europeias) e Lisboa tem 4 a passar a versão 3D desde esta semana, sendo que a versão "normal" estreia na próxima quinta-feira. Um dos grandes filmes do ano, verdadeiramente imprescindível.
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