A Islândia é uma ilha. São 103.000 km2, com 313.000 pessoas. O resto são paisagens irrespiráveis, que deram origem a um documentário absolutamente belo. Heima, o trabalho cinematográfico sobre a tourné gratuita dos Sigur Rós no Verão de 2006, é um documento de uma estética esmagadora, ao serviço da mente. A música dos islandeses é de enorme proximidade com as pessoas e locais escolhidos, e essa ligação flui de forma extraordinária ao longo de 97 minutos. Mais se compreende que a ideia de fazer um conjunto de concertos gratuitos em pequenas cidades da ilha vem precisamente de uma pureza de criação invulgar, a mesma que os membros do grupo se esforçam por explicar, por poucas palavras. O trabalho de fotografia é imaculado, as entrevistas determinam o ritmo, o som captado de forma perfeita, a montagem capaz dos melhores racords. O filme torna-se, assim, não só uma peça essencial para compreensão dos próprios Sigur Rós, como uma reflexão sobre um imaginado espaço de origem, essência de um algo que não se descreve, mas antes se mostra. Para além disso, em muito se explora o impacto do som, enquanto criação humana, nos seres e espaço em seu redor, e a sua capacidade encantatória quando fruto de total generosidade. Já o duplo Harf/Heim, editado no mesmo dia do DVD, não acrescenta muito à carreira dos islandeses, mas também não seria esse o propósito. Hvarf apresenta cinco originais presentes no filme, peças suficientemente abrangentes para poderem estar em algum dos álbuns de originais editados até à data, mas ainda assim fruto do amadurecimento do grupo. Heim, por seu lado, são seis versões acústicas de temas mais conhecidos, em que os Sigur Rós procuram uma simplicidade não presente na versão original e que surgiu em virtude de Heima. A ligação entre o CD e o DVD é, aliás, segura. Sugere-se ainda o fotoblog que os senhores criaram, com algumas das imagens e sons presentes no filme (ver aqui). Tudo para recuperar fé na existência das coisas.
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