Charlie and the Chocolate Factory ****

Ora, é só uma ideia, mas tenho para mim que os quatro melhores filmes de Tim Burton são os de Depp: “Edward Scissorhands”, “Ed Wood”, “Sleepy Hollow” e, agora, “Charlie and the Chocolate Factory” (claro que há “Beetle Juice” e “Pee-Wee”, mas enfim…). Dá ideia que Burton consegue colocar em prática os seus maneirismos com Depp de forma que não consegue com outros. Sim, “Big Fish” era bom, mas Depp é Depp. Em “Edward Scissorhands” Depp foi uma revelação no registo bizarro. Em “Ed Wood”, manteve características, mas assumindo uma pose de sorriso alucinado que se desconhecia. Em “Sleepy Hollow” o bizarro estava na fragilidade. Em “Charlie…” é bizarria contínua. É sabido que Burton assenta os seus melhores filmes (ó pobre cabeça, esquece “Planet of the Apes”) na construção de atmosferas ao mesmo tempo infantis e fantasiosas como desconcertantes e maduras. A pele é doce, a carne é rija. Ora “Charlie…” assenta por completo em Willy Wonka, Depp versão rei do chocolate. Tanto é assim, que até Wonka aparecer o filme parece uma fábula natalícia, com a família pobrezinha, os sorrisos açucarados das crianças e a neve nas ruas a fazerem as despesas da casa. Nós sabemos que Depp está lá dentro. Burton também sabe, mas como o segredo é a alma do negócio, vai escondendo. Até. Wonka é Michael Jackson sem sexo. Nas várias entrevistas que deu, Depp fugiu sempre à questão, mas parece óbvio, Wonka é a personificação de Jackson, sem pedofilia. Mas o ar eugénico, o riso feminino nervoso, o ar ora alucinado ora realista, as criancinhas, o reduto fechado ao mundo onde tudo é de chocolate, o mundo dele. Mas desenganem-se os que pensam em Wonka como um excêntrico. A excentricidade é gratuita, Wonka é muito mais complexo que isso. Wonka tem passado. Depp olha para o vazio e Burton mete um flashback sobre a infância e um pai dentista com cara de Estaline. E à volta de Wonka há cinco crianças protótipo (a mimada, o gordo, o geek, a determinada, o puro) que, por ironia do destino, vão acabando por evaporar. E à volta de Wonka há Umpa Lumpas, todos de face indiana (extraordinário), pekeninos, a cantar músicas extraordinárias de Danny Elfman. À volta de Wonka há esquilos semi-assassinos, pastilhas de sabor eterno, sabor por televisão, elevadores sem poço. À volta de Wonka há Burton, e isso é de agradecer.

PS: para os mais curiosos, já se pode espreitar o novo projecto do mago: “Corpse Bride”, na linha de “The Nighmare before Christmas” (que não foi realizado mas escrito por Burton), com Depp, Bonham Carter, Emily Watson e mais alguns ilustres a darem voz à bonecada. Nos States estreia em Setembro, por cá eu aposto no Natal. Já se podem ver dois trailers online e outras coisas, aqui

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