De Battre Mon Coeur S`Est Arrêté ****

Ora, este é o quinto filme de Jacques Audiard. Se vi algum dos outros não me recordo, sinceramente. O plano de fundo, após análise, é similar ao de “La pianiste”, de Michael Haneke. Tom, como Erika Kohut, tem uma espécie de “esquizofrenia social”. Do pai herdou a rudeza e o viver de “expediente”, no caso, imobiliário. Tão depressa está a lançar ratos nas escadas de um prédio para provocar a saída dos inquilinos como está num escritório de advogados a assinar a escritura do prédio. Cabelo despenteado, ar de “escroque”, headphones com música electro, idas às putas, negócios escuros. Da mãe herdou a sensibilidade para o piano, a compreensão de Bach, o interesse pelas notas. “De battre mon coeur s’est arrêté” é um filme sobre relações: a de Tom com cada um dos pais, com a vida de dia e com o piano à noite, com uma chinesa que não fala palavra de francês, com a morte da mãe e a possível morte do pai. Como Isabelle Huppert, Romain Duris dá corpo ao manifesto e tão depressa é bruto como as casas (expressão bem tuga, esta) como mole e encolhido. Curioso é que Kohut, em “La Pianiste”, era formalmente uma pianista (ou professora de piano) e subterraneamente uma depravada. A sua “noite” era o sexo. No caso de Tom, a questão é invertida. A rudeza está no dia, no quotidiano, e a sua “noite” é o piano. O que inverte a sensação de choque que se tem com Huppert, e confere uma aura romântica (contida, claro) ao filme de Audiard. A realização é soberba, tanto na composição de imagens como na direcção de actores. As mãos de Tom são o grande objecto do realizador francês: tão depressa estão cheias de golpes como a dedilhar uma fuga. E não é Tom que se preocupa com elas, mas antes o realizador. É pelo seu olhar que as centramos na imagem, e não pela personagem. Audiard segura o filme entre o golpe e a tecla até ao fim, limitando-se a seguir os sorrisos ora mafiosos ora infantis de Duris. E Romain Duris é para seguir com atenção, muita atenção…

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