Entrevista de Jorge Sampaio ao Diário de Notícias de hoje (excerto):
"Olhando a esta distância, a impressão que fica é que o Governo de Santana Lopes funcionou como uma espécie de vacina que abriu caminho à maioria socialista...
Não posso ficar mais cáustico do que quando se pensa que isto foi tudo uma grande combinação! Eu tenho por testemunhas as pessoas que trabalharam diariamente comigo. Santana Lopes foi nomeado para ficar! Tratei-o de modo igual aos outros primeiros-ministros! Não sei mesmo se não foi até com mais carinho, porque Santana Lopes é uma pessoa com quem dá gosto conversar... De facto, foi ajudado. Depois correu tudo mal.Eu não gostei nada do caminho que as coisas tomaram, reforçava todos aqueles que achavam que se devia ter dissolvido.
Qual foi o ponto de viragem para a decisão da dissolução?
Uma sucessão de coisas. Desarticulações, etc. Mas há um ponto de que estão todos esquecidos: é que a maioria estava a desfazer-se. Durante o Governo do dr. Durão Barroso a maioria aparecia de uma maneira muito sólida. Depois passou a ser uma coisa completamente diferente, e eu comecei a perceber afastamentos, do lado do CDS, relativamente ao dr. Santana e à sua equipa. Só assim se compreende que a dissolução tivesse sido tão bem aceite e compreendida. É falso que houvesse uma maioria pujante como tinha havido. A maioria não aguentaria muito mais tempo.
E o que é que vai fazer a seguir?
Não sei. Parto outra vez para aí, com inteira liberdade. Hei-de ir ao cinema seis ou sete vezes seguidas, que é o que me apetece. Já disse à Maria José: é cinema a partir de quinta-feira. Depois, golfe, um bocadinho. O fundamental é ter saúde. Depois, aparecem já solicitações diversas. Já há várias coisas.
O que é que gostaria que a História dissesse a seu respeito?
A História que diga. Hoje alegrou-me ver o título do Medeiros Ferreira no Diário de Notícias sobre "O Presidente cidadão e o cidadão Presidente". Acho que isso tem a ver com a nossa geração.
O dr. Soares dizia no fim do mandato que tinha perdido demasiado tempo com a política. O que acha?
Não, acho isto muito apaixonante."
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