[3 de Julho] Na Plaça de Angels, o cheiro a marijuana é abundante. Dezenas de jovens circulam em pequenas distâncias, praticando manobras mentais em skates reais, que se apoiam em muros e pedras que surgem à medida da necessidade. Grupos unidos pela despreocupação aguardam sentados por qualquer nova ideia que os mova. Estão bem com a vida. Atrás, o MACBA assiste impávido, como se adoptasse como seus os filhos da cidade. O edifício alarga-se, mais do que se aprofunda. A enorme frontaria em vidro esconde rampas cruzadas totalmente de branco, com um enorme fosso a separar caminho de arte. Uma mulher jovem, de saia rodada, permanece atenta no seu interesse e não olha para trás. Duas outras, de jeans, entretêm-se a tirar fotografias que atestam a visita a um qualquer edifício, que se perderá perante o desejo de memória. Uma oriental passeia um interesse ocidental pelas salas. Ao fundo, um filme de Sokurov alonga-se para plateia inexistente, como se o inverno siberiano e o relato da morte da mãe de Mozart não tivesse lugar ali. Sento-me e o tecto cobre-se de uma forma rectangular, sob a penumbra quebrada dos passos do segurança que activa a circulação agitando as chaves no bolso e olhando desconfiado as fotografias que habitam as paredes. Deito-me e o mesmo tecto é já um chão, em que os passos tem uma voz russa e a consciência de apenas estar me atinge como um grão de pó. A mãe de Mozart morre. O segurança afasta-se.
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