[Competição Internacional] O hype do cinema romeno continua a produzir realizadores, filmes e documentos, e The Flower Bridge não foge ao padrão. Ainda assim, sendo do romeno Thomas Ciulei, o filme a competição internacional centra-se na realidade de uma família Moldava, longe de Bucareste. A história é, em síntese, simples: Costica é um homem envelhecido pelas agruras da ruralidade que cria sozinho três filhos, em virtude da mulher ter emigrado para Itália em busca de trabalho e tardar a regressar. O pano de fundo, aí está, é uma Europa de Leste deprimida e longe da revolução económica esperada, ainda presa a uma sociedade de interior longe de tudo que se centra na agricultura e pecuária para sobreviver. A aldeia de Costica, e dos pequenos sortudos com um pai-coragem, tem ainda uma estátua de Lenine, a olhar o vazio, e assiste à neve como à lama com aceitação comum. Ciulei cria um documentário filmado como se de ficção se tratasse, ainda que cada olhar da família moldava directo para a camera nos recorde que aquela casa, aqueles montes e aquelas lágrimas ou sorrisos existem. E o filme salva-se, dir-se-ia, porque Ciulei se lembrou de o salvar. Em si, a história é banal e em nada contribui para uma discussão sobre o cinema, ou sobre a Europa de Leste, ou sobre a sociedade. Mas Ciulei tem duas atitudes que recuperam The Flower Bridge para o caminho dos vivos. Primeiro, o romeno procura activamente a imagem feliz, e acaba por se dar bem. A fotografia do filme é doce, a espaços facial, a outros sobre a natureza, mas alicerça uma simpatia que o espectador nutre não pelas personagens mas pelas a imagens que, inadvertidamente, criam, e que Ciulei aproveita como canibal. Segundo, a presença do fantasma da mãe, ausente mas tentativamente presente, é introduzida no tempo certo e confere profundidade a um documentário que, salvo isso, estaria condenado à banalidade. Muito dificilmente sairá do Indie com um prémio, mas confere a Ciulei boas costas largas para o futuro.
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