[IndieMusic] Se há secção em que o Indie sempre apostou e está melhor que nunca, é na de filmes associados ao meio musical. Vimos Lou Reed's Berlin no primeiro dia e valeu a pena. Ontem, Joy Division poderá ficar com o grande documentário musical da edição de 2008. Numa altura em que a carreira e história dos quatro de Manchester está perfeitamente disseminada em cinema, tendo começado com 24 Hour Party People em estilo ficcional e continuado com Control, de Anton Corbjin, não é fácil partir de novo há descoberta do grupo que emergiu do punk para algo superior. Mas este simplesmente Joy Division consegue-o de forma absoluta. Primeiro, porque o trabalho de Grant Gee tem acesso a um manancial de informação jamais visto, documentos, histórias, imagens, gravações audio e vídeo, testemunhos diversos. Segundo, porque, com isso, Grant constrói um documento visualmente hipnótico, com sobreposição de imagens, manipulação de documentos e sons, de tal forma que toda a energia do punk, dos Division, de Curtis, é passada de forma consistente. Terceiro, porque ao contrário de outros Gee não elege Curtis como elemento único mas antes situa-o na importância reconhecida dentro do grupo. Claro que esta era central, mas em termos de atitude Gee não olha para Curtis como início e fim dos Division. Antes apresenta-nos tudo o que interessa para compreendermos o som, o contexto político, social, cultural da Manchester tatcheriana, a intervenção dos produtores no som da banda e na reinvenção do punk, as histórias escondidas, os pormenores e as memórias obtusas. E tudo isto na voz dos representantes directos do projecto, os Division eles mesmo, e Annik, e Tony Wilson, e quem mais teve contacto, de forma profunda, com os quatro putos ingleses que determinaram o som de finais de setenta e por aí em diante. Como filme, Joy Division é absurdamente bom, pelo estilo, pela estrutura, pelo contacto tanto com o realismo dos intervenientes quando falam como pela sua utopia quando olham, pelas imagens, por ir atrás de outras imagens (como as de Corbjin, por exemplo), por ir atrás do espírito de Curtis dentro da bipolaridade agora conhecida e a epilepsia então diagnosticada, por olhar nos olhos uma banda que, para todos os efeitos, trouxe efectivamente muito de novo à realidade de então e de agora. Só por Joy Division já valeu a pena ter Indie.
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