Baile de Outono (***)

Não é muito comum chegarem exemplos da cinematografia da Estónia a salas portuguesas. Também por isso, mas não só, Sügisball, que em português deu "Baile de Outono", é uma boa surpresa. O filme de um desconhecido Veiko Õunpuu é sobretudo uma visão cinzenta da solidão humana, sem deixar cair um traço de identidade de leste. Ao longo de duas horas a camera leva-nos a seguir um escritor abandonado por uma mulher, uma mulher abandonada pela sorte, um barbeiro finlandes esquecido e demais personagens emocionalmente fragilizadas, que acreditam mais no silêncio do que na conversação. Sendo notório que o estónio foi beber a escola de Bergman, a sua grande conquisa é a criação de um ambiente emocional e visual que veicula a solidão contemporânea, desta feita não agregado à abstracção de uma grande metrópole, mas numa cidade neutra, lenta e nocturna, onde os personagens se encaixam como peças de um puzzle. Õunpuu tem o filme ganho enquanto filma e estrutura, mas quase que se perde quando começa a introduzir texto e a cruzar personagens e respectivas histórias. Aí começam a aparecer disparates, frases feitas, que quase deitam tudo a perder e se revelam como perturbadoramente desnecessárias. Mas depois recupera-se o silêncio, a alienação consciente, o drama pessoal psicológico de cada um, em tom poético, bem filmado, com imagens felizes e sons a condizer, e no fim de tudo temos o "filme-ovni" do Verão, que faz ter saudades do Inverno e daquele olhar perdido do quotidiano.

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