Wall.E é um dos filmes que tínhamos apontado para ter atenção este ano (ver aqui). Dizia eu, na altura, que "a avaliar pelo trailer #2 é animação da melhor, com tudo veiculado por imagem ou movimento, porque Wall-E não fala, praticamente. E tem tudo para ser um dos grandes do ano". E aqui, grande satisfação porque sim, é um dos grandes do ano. E quando as expectativas são cumpridas é sempre bom. Andrew Stanton, que andou com Wall.E na cabeça durante uns anos, já tinha dado Finding Nemo à humanidade. Portanto, o senhor não é virgem em matéria de animação de topo. Mas realmente Wall.E é elevar a fasquia um bom bocado. Não só porque o trabalho de animação é brilhante, mas porque será (talvez) o primeiro projecto desta magnitude a arriscar em personagens sem comunicação verbal. E, para nós, essa é a grande aposta ganha do projecto. Todo o trabalho, quer visual quer sonoro, tem o objectivo claro de veicular comunicação sem recorrer ao verbo. E aí Stanton ganha em toda a linha. Wall.E é uma personagem com enorme densidade, personalidade evidente e capacidade para comunicar apenas com os seus sons, movimentos, acções e demais componentes, e é aí que tudo parece alicerçar-se. Claro que é a mensagem "verde" que conquista corações mais militantes, e que a projecção da humanidade que surge no ecrã também ajuda a adoçar a coisa (é possível que aquele seja mesmo o nosso futuro, em potencia?), mas a grande conquista do filme, a nosso ver, está na capacidade de se sustentar e de comunicar com o espectador de forma clarividente sem verbo. Não é qualquer um. Mas atenção, e aqui talvez algo politicamente incorrecto: Wall.E não é um obra-prima, nem está num patamar sequer próximo de ET. É um grande filme, magnificamente bem feito, mas não vai marcar a história do cinema, sobretudo porque lhe falta densidade dramática (desde o primeiro plano que sabemos que vai acabar tudo em bem) e porque Wall.E está apostado em ser adorado por todos. Em ET aprendíamos a gostar daquele ser ao longo do filme, e havia medo de início, que se convertia em defesa depois e pena ou tristeza por fim. É esta capacidade de convocar diferentes estados emocionais, motivados por uma surpresa recorrente, que não se vê no projecto do robot do lixo. Portanto: parabéns senhor Stanton, mas continue a mandar postais.
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