Segurança e o seu contrário

São neste momento 20:28h e o Jornal da Noite da SIC ainda não largou os assaltos, roubos, violência e afins. Os assaltos da noite passada já foram em restaurantes da periferia de Lisboa, onde estavam ainda clientes e proprietários. Churrasqueiras, onde os meliantes levaram, inclusive, a carteira do cliente. O PGR vem mostrar os músculos, como lhe compete, enquanto o Ministério da Administração Interna lança o Secretário de Estado numa posição securitária, para o lado legal da coisa. A "onda", desta feita não mexicana e não em qualquer estádio de futebol, assim obriga. São 20:31h, e a SIC martela. Se há questão que surge aos olhos do público como de interesse público é a da segurança, ou da falta dela. E portanto os media cavalgam. Agosto dá jeito. Agosto, Agostinho, mês rei da "estação xoné". Antes das oito, na SIC Noticias, alguém revelava uma verdade escondida: o volume de crimes violentos, assaltos e etc, está longe do valor, por exemplo, de 2006. Longe, para baixo. Tudo isto me traz à cabeça uma história, também ela não desvelada. Na minha infância, corriam os belos anos 80, era muito comum o suicídio na linha do comboio, nomeadamente na linha de Sintra. Todos os dias a RTP lá estava batida para cobrir a coisa, o carril, a pedrinha onde o tipo tinha caído. Até que a CP fez um pequeno acordo com a então única TV, ao abrigo da qual a RTP se comprometeu a evitar a cobertura noticiosa de suicídios na linha. E por artes mágicas eles desapareceram. Desapareceram mesmo, a partir daí as formas de chegar ao fim da linha passaram a ser outras na cabeça de quem toma a decisão fatal. A segurança é, em termos globais na sociedade, uma sensação. E essa, agora sim, está à mercê de repórteres a precisar de férias, ou de notícias. A "onda" está aí. Daqui por um mês, quando tudo voltar a olhar para o parlamento, e para as eleições presidenciais norte-americanas, e para o regresso às aulas e afins, os meliantes lá terão que procurar alvos diferentes. Porque nessa altura a churrascaria já não dá no Jornal da Noite. A "onda" enrola na areia.

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