Assim de repente não conheço o senhor Hirokazu Koreeda de lado nenhum. Mas também não tinha que conhecer. O que é facto é que Dare mo Shiranai, que deu "Ninguém Sabe" em Portugal, é uma bela peça de cinema. A história, por mais bizarra que possa parecer, é simples: quatro crianças são abandonadas pela mãe num apartamento, do qual apenas o mais velho tem autorização para sair. Sozinhos, sobrevivem meses a fio. Baseado em factos reais, Dare mo Shiranai tem muitas virtudes e poucos vícios. A maior, talvez, é o facto do senhor Koreeda não ter obcecado em fazer um conto moral sobre factos da realidade contemporânea, mas antes ter filmado uma história, que pode ter (e tem), em si mesma, bizarria. Koreeda nunca nos dá o seu olhar reprovador sobre a mãe. Antes apresenta-a como ela é: infantil, desligada do real, nipónica até ao tutano, com aquele aspecto de desenho animado de olhos esbugalhados que não sabe lidar com a vida. Koreeda nunca nos dá o seu olhar benevolente sobre o filho mais velho. Antes filma-o como é: um miudo que puxa pela cabeça as formas mais elementares de sobrevivência, sem heroísmos ou renúncia à sua qualidade de criança. E a acrescentar a isto, Koreeda filma de forma inteligente. Todo o ambiente é dado visualmente por planos apertados de pormenor, seguidos de planos abertos de espaço. Vemos a sala imunda, vemos o pé da irmã mais pequena. Vemos as ruas, mas não nos perdemos na ideia de uma cidade sem fim. Milimetricamente, o senhor Koreeda constrói um desenho visual que serve de forma completa o seu desígnio de história. Está longe de ser um dos filmes do ano, mas também não aspira a tanto. É cru ou terno onde deve ser. É cruel por si mesmo, e não porque se tenha esforçado. Entretanto, parece que o mais recente projecto do senhor Koreeda é sobre um samurai perturbado à procura de vingança e já se encontra concluído. A este ritmo, deverá chegar às salas aqui do rectângulo dentro de dois anos. Se chegar. Esperamos.
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