Andrew Bujalski é um geek. Sem margem para dúvidas. E Mutual Appreciation tem Bujalski no papel de um geek, com um amigo bizarro com a mania que é músico e uma namorada pouco segura de tudo. É este triângulo que segura o filme, um profundo low-budget que pisca o olho continuamente a Hal Hartley, à Nouvelle Vague, a Cassavetes, a Jarmusch. Filmado em cima do joelho, a preto e branco, a tentativa é a de fazer uma comédia romântica desencantada sem tema central. As três personagens vagueiam pelo filme à procura de si e dos outros, com diálogos de quem não se sabe exprimir ou é demasiado honesto. Bujalski tem o condão, ainda assim, de não procurar o vazio à la Seinfeld, mas antes tentar passar uma zona de sombra real, com personagens inadaptados ao meio, numa Brooklin cinzenta que nunca deixa ver o skyline de Manhattan. É a inaptidão para a vida, ou a tremenda honestidade para com a mesma, que atrai Bujalski, e o humor surge por arrasto, porque a honestidade extrema faz-nos sorrir. Em termos de realização o trabalho está longe da originalidade (o filme vive quase exclusivamente dos actores), mas também é apenas o segundo filme do norte-americano e a ideia também é muito ainda de exploração e não de consistência fílmica. Não será um novo Jarmusch, porque lhe falta o blazé e o tabaco, mas é um caso a seguir. Ainda assim, e não estando vistos nem metade dos filmes a competição, Mutual Appreciation não deve levar o prémio para casa. Mas para Bujalski, presente na sessão, o prémio está ganho e era outro: nunca teve um cinema cheio a ver um filme seu.
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