Recupero o início do post de Novembro: "Esta é Helena. Tem 15 anos e trabalha para a família, no circo. Um dia pira-se e entra nas Dark Lands, zona de gigantes, pássaros-macaco e esfinges animadas." Reformulo: Helena tem 15 anos e trabalha num circo que é o sonho do pai. Como qualquer circo, mal se aguenta. O sonho é do pai e não da miúda, pelo que vai de iniciar um sempre simpático processo de revolta. Como a miúda tem jeito para o desenho, a parede do quarto está pejada (bonito) de rabiscos. E é por aí que Helena entra nas Dark Lands, de onde o filme não tem retorno. Recordando o que dizia também em Novembro, é um "filme que reúne dois dos mais interessantes nomes da literatura e banda desenhada actuais: Dave McKean e Neil Gaiman". Reformulo: é uma peça de cinema soberba, que afaga os olhos a cada plano. A dimensão estética do trabalho de McKean é avassaladora, o plano de história de Gaiman é superior. Acessível, açucarado e contagiante, Mirrormask não facilita, não cede, não desiste: a criatividade é surpreendente, mesmo quando já se espera o não expectável. Na prática, o filme combina imagem animada com desenho de costela onírica, não ao jeito Roger Rabitt, mas antes criando um mundo de esteta. Helena safa-se bem, mas não está ao nível dos Bob, por exemplo, pássaros-macaco delirantes, ou das esfinges com corpo de gato e cara de gabiru tramado. Além de tudo, desenganem-se os que pensam que Mirrormask é apenas fogo de vista. O argumento é bem esgalhado, abordando questões tão díspares como a adolescência (que Helena vai espreitando pelas janelas) ou a doença crónica e possibilidade de morte. Pelo meio, a metáfora da passagem por um mundo estranho, onde quem tem cara e não máscara é o esquisito. Gaiman e McKean não precisavam de provar nada a ninguém no papel, agora somam e seguem no ecrã. A não perder por nada do outro mundo quando estrear comercialmente (e não deve tardar).
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