Copio a sinopse de Grain in Ear que o festival apresenta: "O filme de Lu detém-se em Cui Shunji, uma jovem mãe coreana a viver à margem da sociedade chinesa. Com o marido na prisão e uma criança pequena para sustentar, nada mais resta a Cui senão continuar a vender kimchi (um prato coreano muito popular no nordeste da China) numa roulotte ilegal a trabalhadores fabris ao longo de uma estrada industrial desolada. Quando tudo finalmente parece estar a correr bem (com o início de uma relação e a legalização da sua actividade graças à ajuda de um polícia), Shunji apercebe-se da fragilidade da sua situação e decide-se por uma vingança impiedosa." Ora, Lu é Zhang Lu, realizador chinês. E Grain in Ear é, primeiro que tudo, um filme parado. Totalmente filmado com planos fixos (à excepção do último), é árido, rude, duro como pedra. Todo o trabalho cinematográfico é feito, praticamente, pelo espectador, sendo que Lu quase apenas se limita a apresentar as imagens "como elas são". É o cinema-janela. No plano, os elementos (pessoas, animais, veículos) limitam-se a entrar e a sair, e nós temos uma janela fixa, por onde nem sequer podemos meter a cabeça de fora e olhar à volta. A liberdade de visão é nula. Não há banda sonora, nem qualquer evolvência emocional. A única fuga é o humor emanente dos factos, como uma galinha azul porque uma criança encontrou uma lata de tinta. A vida de Cui é no limiar da depressão, os cenários são de terra batida numa China interior onde tudo se move lentamente. Ou seja, as premissas até eram interessantes, mas Lu consegue esbanjar um conjunto de questões (a adaptação de uma coreana à comunidade chinesa, por exemplo) porque insiste numa aridez demasiado pronunciada. O filme torna-se penoso de ver, e não dá compensação estética pelo esforço. É um trabalho apurado de realização, pensado ao milímetro, mas sem margem de manobra e sem pontos de fuga. O que não facilita.
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