The Dark Knight (****)

A história de Batman no cinema merece ser vista com olhos de ver. Ou seja, vale a pena acompanhar as várias viagens ao universo de Gotham e do herói talvez mais negro da história da BD. Algo que merece também ser dito é que o primeiro filme da saga, com data de 1989, é de Tim Burton. E daí para cá foi impossível olhar para o personagem e para os filmes sem esquecer este dado. Porque Burton é Burton, e porque Batman, o primeiro, é um filme sem mácula e que definiu o patamar numa posição alta. Muito alta. Tão alta que os desastres como Batmand Forever, em 1995, ou Batman & Robin, dois anos depois, vieram pôr em causa a presença do morcego no grande ecrã. Depois veio Cristopher Nolan, na ressaca dos marcantes Memento e Insomnia, a querer salvar a coisa para aquilo que hoje se gosta de designar como o período negro. E a primeira experiência não correu de forma particularmente brilhante. Batman Begins centrou-se na formação da personagem, na sua infância e ligação aos pais, e esqueceu-se de encontrar um vilão a sério ou o ambiente certo para um universo que foi totalmente estilhaçado pelo trabalho de Joel Schumacher. E portanto chega-se a 2008, de novo, com a sensação do vai ou racha do homem-morcego. E a coisa parece ganha. Não, The Dark Knight não é melhor que o paladino de Tim Burton. Mas simplesmente porque Burton é Burton, e o batman do realizador bonecreiro não é repetível. Desta feita, Nolan parece ter aprendido com os erros e mostra agora um filme bem estruturado, que não cede na acção mas não se reduz à mesma, que dá máxima sequência à criação da personagem Batman e, mais do que tudo, à sua contínua luta consigo mesmo enquanto herói negro, simultaneamente luz e negativo de si mesmo. Christian Bale move-se muito bem no meio de tudo, e Nolan tem um enorme jackpot em Heath Ledger. À parte de qualquer visão romanesca impulsionada pela morte do actor, o trabalho de Ledger dentro de Joker é incrível e tremendamente comparável com o de Jack Nicholson, precisamente o joker de Burton há quase vinte anos. Comparável porque onde Nicholson era demasiado Nicholson, Ledger é carne, osso e risos totalmente Joker, sem espaço para mais nada. A performance de Heath Ledger é memorável e entra directamente para a galeria dos grandes vilões do cinema, ao lado do Hannibal Lecter de Hopkins, por exemplo. E a consistência de um grande Batman tem que vir da força da sua antítese. Mesmo que que essa acabe por vir de si mesmo, mas potenciada pelo mal em forma de sorriso cortado.

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