docLisboa 2008: Alone in Four Walls (****)

[Competição Internacional] Alone in Four Walls é o primeiro filme, para cinema, da alemã Alexandra Westmeier, e revela-se uma excelente primeira obra. A realizadora seguiu rumo à Rússia para nos guiar numa viagem a um reformatório onde estão detidos jovens com menos de 15 anos, condenados pelos mais variados crimes. Do furto de comida ao assassinato, é um mundo de delitos que está na origem da reclusão das crianças, que ali vemos como definitivos condenados fora de tempo. A realidade tem, porém, duas nuances. Por um lado, trata-se efectivamente de um reformatório, e não de uma prisão. A instituição mete os miudos a trabalhar e responsabilizar-se por si e pelas suas acções. Por outro lado, a origem de muitos dos problemas está na zona cinzenta do alcoolismo de familiares, da ausência parental ou de um clima de abusos físicos. E assim as crianças que num primeiro momento parecem pequenos monstros são, também, grandes vítimas. O trabalho de Westmeier é muito interessante em dois ou três pontos cruciais. Primeiro, porque dá voz efectiva aos personagens principais. Os míudos falam em voz própria, olham a câmera de frente, revelam as emoções mais profundas como se fossem factos e não se escondem de nada, mesmo que as lágrimas venham aos olhos. Depois, a realizadora tem a inteligência de ir à procura do real fora dos quatro muros. Em pontuadas viagens, conhecemos a família, ou o mais próximo dela que existe, daqueles que vimos fechados. Lêem-se cartas que vimos escrever, ou vemos ler ao som de quem escreve. As duas faces da moeda contextualizam algo que parecia a princípio frio e dão todo um novo pano de fundo ao filme. Por fim, Westmeier faz tudo isto sem perder uma noção da imagem como veículo documentador, e não se deixa ficar pelo real filmado. O trabalho de fotografia é fantástico, e o que sobressai sobretudo é a luz, que inunda quase todos os planos. O resultado é um filme luminoso, equilibrado entre o dramatismo de uma realidade incontornável e a ternura de crianças que cantam, por fim, "um menino russo dá o peito às balas". Um bom candidato à vitória final do festival.

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