Festa do Cinema Francês 2008: Entre'acte (*****)

Uma das secções da edição deste ano da Festa é Paris-Lisboa, dedicada a filmes sobre as duas cidades e assinalando também os dez anos do pacto cultural entre as mesmas. Para assinalar o início da mostra, que inclui o fantástico Berlarmino, de Fernando Lopes, ou La Traversée de Paris, com Louis de Funès, o IFP escolheu um objecto no mínimo singular. O filme de 21 minutos realizado por Rene Clair é um marco no surrealismo no cinema e está no mesmo patamar que Un Chien Andalou, a obra prima de Buñuel e Dali. E mais do que isso, a sessão de segunda-feira à noite na Cinemateca Portuguesa assistiu à banda sonora ao vivo interpretada e composta pelo francês Jacques Cambra. O filme, escrito por Francis Picabia, é um prodígio e um enorme manifesto de liberdade criativa. Em 21 minutos vêem-se perseguições em telhados, Man Ray a jogar xadrez alucinado com Marcel Duchamps, imagens malucas de Paris, em planos invertidos, sobreposições e sombras, um cortejo fúnebre em que os homens saltam em camera lenta e o caixão foge com um prestidigitador lá dentro, sorridente e maquiavélico. Realizado em 1924, Entre'acte é um enorme símbolo do surrealismo, em tom burlesco, e do início das vanguardas, da liberdade máxima na criação de algo. O visionamento é delicioso, e a cada momento se descobre algo novo, permitindo também a redescoberta da imagem em movimento enquanto meio técnico ao serviço do melhor que o humano consegue fazer e pensar. Descobrimos o próprio filme no Youtube, e tomamos a liberdade de aqui o deixar, na consciência que não é o mesmo (nunca é) do que o ver na tela. Mas ainda assim, é quase que uma obrigação olhar para Entre'acte.




Próximo visionamento: Cartouches Gauloises, de Medhi Charef, hoje, às 19:30h, S. Jorge

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