Ari Folman é sobretudo argumentista de televisão. Olhando para o seu curriculum, tem apenas três filmes como realizador, e num espaço de mais de dez anos. O último havia sido Made in Israel, uma comédia. O novo, que passou sexta-feira na Festa, promete, porém, colocá-lo no mapa cinematográfico mundial. Waltz with Bachir é um filme soberbo, e confirmar-se-á como o grande acontecimento do evento promovido pelo IFP. Também escrito por Folman e totalmente falado em hebraico, o projecto é de difícil definição. Não é bem documentário mas faz documentalismo, não é só animação mas ela é profunda. O certo é que não é ficção. E para isso basta sublinhar que os noventa minutos são totalmente ocupados pela primeira guerra do Líbano, e sobretudo pela procura de uma memória real dos massacres de Sabra e Chatila, em 1982. Em conversa com um amigo, que conta um pesadelo que o assola todas as noites, Ari compreende que não tem memórias concretas quer da guerra quer das missões que levou a cabo, e dos massacres. Assim, decide entrevistar alguns intervenientes e ir à procura das suas próprias memórias, perdidas algures no espaço vazio e desconhecido que o habita, recalcadas sem pudor. O resultado desta busca é um mergulho na memória, passo a passo, dando nitidez à brutalidade da guerra no início da década de oitenta, e virando o espelho, frontal, aos israelitas. O filme é um olhar sobre o conflito sob o ponto de vista dos soldados e correspondentes de guerra, e ilustra-se a si mesmo de forma visualmente fascinante, em imagens que evocam o universo da banda desenhada mas que nunca se sobrepõem aos próprios actores, deste caso, da História. Em termos de construção, Waltz with Bachir é equilibradíssimo e vai afunilando a carga dramática à medida que a memória de Ari se torna mais nítida, até ao limite final da imagem real, sublinhando o absurdo de tudo. Ao que parece, o filme tem estreia comercial agendada para Dezembro, e marcará, assim, o panorama de filmes do ano da forma mais vincada possível. No âmbito da Festa do Cinema Francês, Porto e Faro serão ainda espaços de visionamento, nos dias 26 e 31 de Outubro, respectivamente. Absolutamente a não perder. (Reproduz-se abaixo o trailer).
Próximo visionamento: Bord de Mer, de Julie Lopes-Curval, hoje, às 21h, S. Jorge
Próximo visionamento: Bord de Mer, de Julie Lopes-Curval, hoje, às 21h, S. Jorge
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