docLisboa 2008: My Enemy's Enemy (*****)

[Investigações] Kevin McDonald será conhecido, sobretudo, por O Último Rei da Escócia, que deu o óscar a Forest Whitaker o ano passado. O realizador, porém, não se dedica apenas à ficção, e desta feita trouxe My Enemy's Enemy ao docLisboa. Tendo por mote a máxima de "inimigo do meu inimigo meu amigo é", o realizador foi à caça da história de Klaus Barbie, o "carniceiro de Lyon". Barbie foi uma das figuras proeminentes das SS e do III Reich, com impacto sobretudo na supressão da resistência francesa durante a II Guerra Mundial, mas não só. Milhares de pessoas foram deportadas sobre as suas ordens, incluindo um grupo de algumas dezenas de crianças que se encontravam numa instituição isoladas. Muitas torturadas de forma bárbara pessoalmente pelo alemão. Finda a guerra, Barbie vê-se útil à CIA e aos EUA na guerra fria, e posteriormente, já na América Latina, intervém na profusão de revoltas e golpes militares em alguns países, na tentativa de instauração de um IV Reich nos Andes, até aos anos 80. Descoberto por caça-nazis ao serviço de vítimas ou descendentes das mesmas, viria por fim a ser julgado em França e condenado a prisão perpétua, tendo falecido em 1991, ironicamente, em Lyon. Contada a história, importa dizer que Kevin McDonald faz um trabalho de investigação fantástico. Ao longo de 87 minutos vemos o desenrolar da história de Barbie como uma novela dantesca, profusamente ilustrada por testemunhos dos mais variados intervenientes, e contextualizada ao limite. Ao mesmo tempo, McDonald tenta definir o perfil de Barbie e estudá-lo pelos actos, palavras e movimentos, parece que à procura da raiz do mal. E como pano de fundo impositivo de tudo, a ideia de um relacionamento entre nações amoral, onde o carniceiro de hoje é o agente de amanhã e o traidor de depois. Os testemunhos do julgamento de Barbie são arrepiantes e de colocar lágrimas no mais másculo dos crocodilos, a captação das expressões de antigos agentes que assumem erros é lapidar, e o filme segura-se na ponta da faca. No fim, para além de um belíssimo documentário, sai-se da sala com vergonha de habitar este planeta. E não é nada connosco. Fará se fosse. Lembram-se de Anne Frank? Era de Barbie que fugia....

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