Motelx 2008: balanço

Ao segundo ano, o Motelx não é ainda um festival de cinema solidificado, nem podia ser. É sobretudo uma iniciativa que virá a ser, se bem dirigida, um festival de cinema de pleno direito. E porquê? Sobretudo porque lhe falta uma organização de secções mais consistente, uma secção competitiva e não apenas uma mostra, porque não conseguiu ainda assumir uma identidade reconhecível, que se converta na captação de um público identificável. Pelo que se viu no S. Jorge, o público do Motelx, de enorme heterogeneidade, olhou mais para um ou outro filme em particular, do que para o festival como um todo. Sessões quase esgotadas na sala principal alternaram com sessões meio vazias na sala 3. Conhecedores do género misturaram-se com curiosos do sangue. Falta discussão sobre o tema. As curtas-metragens abrigavam tanto trabalhos consistentes como obras escolares. Mas ainda assim o trabalho mostrado pelo Motelx é animador. Porque convocou muita gente a filmes habitualmente com dificuldades de penetração no mercado. Porque conseguiu reunir um grupo interessante de apoios. Porque procurou profissionalismo na organização e no dia a dia do evento. Porque já pensa em secções e procura pro-activamente mostrar movimentos ou facetas do género (doc terror, nouvelle vague, Lobo Mau). E do género ficam-nos duas ideias fortes, a partir dos filmes vistos. Primeiro, que o cinema de terror é hoje muito mais de horror. Ou seja, a ideia do filme de susto deu lugar ao filme do sangue. Não que o primeiro não o tivesse, mas os últimos anos parecem encontrar no espectador um olhar mais curioso pelo horror enquanto nojo, frontal, sem surpresa mas afirmativo. Assim, a maior parte dos filmes procura mostrar o horror mais do que aterrorizar o espectador, cada vez com menos medo. Segundo, uma evidente proximidade entre o terror e o humor. Boa parte dos filmes mostrados tem evidentes inserções de humor negro, e alguns estruturam-se mesmo à sua volta. Não é novo, mas parece agora ser mais evidente. E aqui aposta ganha sobretudo para os que o fazem de forma consciente e dinâmica, em detrimento dos que tentam fazer algo diferente. Porque se o que resulta são gargalhadas, algo poderá estar claramente mal e o resultado é um misto que não serve a quem vê com seriedade. Ao segundo ano, o Motelx aguenta-se, e aguenta-se bem. A ver vamos em 2009.

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