Para a abertura, os programadores do Motelx decidiram trazer Doomsday, de Neil Marshall, precedido por uma curta de Nuno Felix. Esta, A morte de Tchaikosvki, é o primeiro trabalho do jovem realizador, e salda-se por 8 minutos bem estruturados, à volta de uma ideia simples e directa, e com pormenores de imagem que mostram um pensamento por trás. Ainda que com problemas técnicos (luz, focagem), o resultado é interessante para um primeiro trabalho: curto, seco, directo, de bom gosto, sem invenções, com sentido de humor e objectivo. Já do projecto do britânico não se pode dizer o mesmo. Doomsday, que o Motelx apresentou em ante-estreia nacional, é o chamado "filme armado ao pingarelho". A estrutura é um pastiche: um virus mortal precipita o fim dos dias na Escócia, e o Reino Unido decide isolar a área do mundo, criando uma terra de ninguém onde supostamente a morte é raínha. Claro que a coisa não corre muito bem, e décadas depois da clausura é necessário lá ir. Quem vai? Claro, a criança que se safou no último momento da retirada e que deu em agente da polícia. Com quem? Com um grupo de agentes estilo mercenários sem nada a perder. E a receita continua pelo campo do previsível, equipa dizimada rapidamente, e a senhora que safa tem que dar conta do recado sozinha. Pelo meio há sobreviventes acabadinhos de sair do cabeleireiro punk lá do sítio, cavaleiros da idade medieval que se escondem num castelo, túneis curtinhos pelo meio das montanhas e carros de alta cilindrada escondidos à espera da salvadora. Dito assim, a coisa até podia ter alguma piada. Mas não tem. E sobretudo porque Marshall tem a mania que faz um filme sério, e não um série-B. Tem dinheiro a mais para o último, mas a menos para o primeiro, e preocupa-se sempre em fazer um filme de acção mais do que olhar para o campo do terror. O resultado é um filme armado em parvo, com a mania de ser muita bom, mal estruturado porque não segue nenhuma das narrativas que mostra e salta entre elas como se não houvesse amanhã, com personagens sem um pingo de profundidade nem conscientes da sua ausência, interpretações sofríveis dos actores e a ideia que o fim do mundo na terra de Duncan McCloud é "muita fixe". Não há a aridez de Mad Max, não há o pastiche assumido de Carpenter nem sequer um traço de realização, sendo que Neil Marshall limita-se a consultar o manual de planos da escola secundária e não arrisca um milímetro fora da receita. Doomsday não mete medo a uma criança na primeira infância, e também não diverte nenhum adulto consciente. O fim do mundo pariu um rato.
1 comments:
3:55 da tarde
Boas!
Concordo com o post. Já vi o filme ha algum tempo, e sinceramente, para quem já viu Mad Max, 28 Dias Depois e Redident Evil, este filme não traz nada de novo.
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