Ao rubro. Ainda nenhum debate presidencial teve lugar nos EUA e já a situação está ao rubro. Esta tarde John McCain suspendeu a sua campanha. Diz o republicano que a situação está difícil, que é preciso trabalhar em prol da proposta de Bush para ajudar o sistema financeiro e que, assim, regressa a Washington à procura de um consenso. Apela a Barack Obama para que faça o mesmo. Assume que não está disponível para o debate de sexta-feira, o primeiro. O veterano McCain, a perder terreno de dia para dia nas sondagens, ataca forte tentando liderar a campanha e marcar a agenda mediática a seu favor, procurando inverter a lógica da realidade. E a posição de Obama não era fácil: ou aceitava o adiamento do debate e dá parte fraca, ou mantém posição e corre o risco de parecer pouco preocupado com o futuro da nação. Obama fez a única coisa que podia e devia: está a esta hora presente na reunião com Bush, mas afirmou antes que mantém intenção de debate e que é agora, precisamente agora, que os americanos têm e devem ouvir quem vai ter que lidar com a situação daqui a quarenta dias. McCain, perante um debate que inevitavelmente vai focar o estado da economia (ainda que o tema "oficial" seja política externa), bateu em retirada sabendo que dali não viria nada de bom. No mesmo dia, exactamente no mesmo dia, surge um vídeo de Sarah Palin (quem mais?) a rezar contra a feitiçaria e Satanás. É mais uma acha para uma fogueira que se virou contra os republicanos, mas tem a sorte de aparecer no dia em que menos importava. No fim de contas, os republicanos viram o efeito da convenção desvanecer-se e Obama voltar a ganhar a dianteira nas sondagens, e desesperam. No entretanto, a maior ironia alguma vez vista para lá don Atlântico: a maior economia de mercado do mundo, alicerçada no liberalismo mais feérico e na quase total ausência sequer de regulação, vê-se à rasca. E quem vai em auxílio é o contribuinte. O mesmo que não tem dinheiro para pagar a hipoteca da casa, ou o seguro de saúde mais básico, num país onde não existe sistema nacional de saúde. Bush quer a aprovação de um pacote que prevê a utilização de milhões sem vista, num volume 50 por cento superior a todo o dinheiro que o FMI já gastou na história. O mesmo Bush que durante dez anos não quiz saber do crescimento (ou sequer existencia?) do sub-prime, que minou qualquer tentativa de controlo da economia, que olhou para o território como terra livre de constrangimentos e preferiu ir ocupar países sem armas de destruição maciça, o mesmo com uma paranóia securitária que levou milhões de dólares para a morte de jovens do outro lado do mundo. É verdadeiramente fascinante ver o maior idiota de todos os tempos na Casa Branca querer agora dar ares de Estaline e controlar uma situação que ainda ninguém conseguiu estimar na totalidade, comprando dívidas que ninguém sabe avaliar e intervindo numa economia habituada ao laissez faire, laissez passer em estilo rodeo engravatado. Ironia da história, o sonho americano é agora alvo de intervenção. Caro senhor McCarthy, prenda-o: ele é comunista.
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