[IndieLisboa08] Pink (*****)

[Competição Internacional] A secção principal do festival deste ano tem dois filmes gregos. O primeiro visto foi Pink, de Alexander Voulgaris. O grego, com 27 anos, não é virgem nestas andanças: este é o seu quarto filme, e data de 2006. E onde outros julgaram captar a languidez da vida e a profundidade da memória, Voulgaris conseguiu. Socorrendo-me da sinopse oficial, "Vassilis Galis tem vinte e poucos anos, vive com o pai e com o irmão e tenta lidar com a enxurrada de emoções inerentes à passagem para a idade adulta. Escreve músicas e sonha com Emily, uma irlandesa por quem se apaixonou numa passagem de ano em Berlim. Um dia conhece uma precoce menina de onze anos, com quem começa a passar a maior parte do tempo. O irmão de Vassilis é uma estrela de cinema que percorre as ruas dando autógrafos a adolescentes, em troca dos seus números de telefone... Enquanto isso o pai de ambos, que também tem uma fixação por mulheres mais jovens, quase não fala, tem medo das palavras". Portanto, narrativamente, em termos de história concreta, o filme é um vazio. E Voulgaris, que o interpreta, ocupa esse vazio consigo mesmo, com a confissão permanente, pelo texto e imagem, da solidão de um adulto que gostava de nunca ter passado de uma criança. E mesmo esse olhar é, ironicamente, o de um adulto, com a maturidade, doçura e melancolia de alguém consciente e não infantilizado. O filme está pejado de boas imagens e de um ambiente confessional claro e transparente, que em momento algum resvala. Mais: não deixa de abordar as razões de uma visão memorial da vida, desde a partida de uma mãe vítima de cancro que decide ver o mundo, até um pai quase mudo que é o protótipo do adulto afectivamente frustrado mas incomunicante com os seus próprios sentimentos. O trabalho de estrutura e realização é pungente, e, no global, Pink afigura-se como um bom candidato ao prémio final.

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